quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Hidratação no Esporte


           A água representa cerca de 70% do peso corporal e é um nutriente de fundamental importância para a sobrevivência.

           É ainda mais importante para o organismo quando ocorre elevação da temperatura corporal durante o exercício. Esse aumento se deve ao ganho de calor no ambiente e na produção de calor do organismo durante a atividade. Nesse momento há perda de líquidos do organismo, e, se não houver reposição do líquido perdido pelo suor, há desidratação, que afeta a força muscular e aumenta o risco de cãibras e hipertermia, e consequentemente compromete o desempenho.
 
            A água do organismo provém de várias fontes, sendo ingerida sob a forma de água pura e de água que compõe os alimentos, inclusive os sólidos, que são as fontes exógenas. Existe, ainda, a produção endógena de água, decorrente da oxidação dos macronutrientes. A soma das fontes exógena e endógena precisa oferecer ao organismo humano a quantidade de água correspondente às perdas diárias. Além do débito urinário, cerca de 100ml de urina/hora, ocorrem perdas pela pele e pelo trato respiratório, somando cerca de 700ml/dia de perda insensível de água, perda pelo suor, que é bastante variável, podendo atingir até dois litros por hora durante a prática de exercícios físicos, além das perdas pelas fezes, cerca de 100ml/dia.
 
            A sudorese é estimulada em resposta ao aquecimento central do organismo como forma de controlar a temperatura. Dependendo da intensidade do exercício, condições ambientais, nível de treinamento físico e estado de aclimatação, a sudorese pode exceder dois litros/hora. Ressalte-se que a perda do suor significa a perda de água e eletrólitos que devem ser repostos no intuito de que sejam evitados sérios transtornos orgânicos agudos, como a hipovolemia e o superaquecimento corporal, e crônicos, como a hiponatremia.
 
            Sendo hipotônico o suor em relação ao plasma, inicialmente a perda de água é proporcionalmente maior do que a de eletrólitos, em especial do sódio, ocorrendo desidratação com hipernatremia. Posteriormente, como se costuma oferecer mais água do que sódio, pela ingestão de água pura ou de bebidas 'desportivas' com menor concentração de sódio do que a do plasma sanguíneo, como decorrência da hidratação, por hemodiluição, ocorre hiponatremia. A quantidade de perda do sódio vai depender da aclimatação ao calor e da taxa de sudorese. Indivíduos aclimatados apresentam menor perda de sal em relação aos não aclimatados, mas têm taxa maior de sudorese, podendo apresentar hiponatremia em atividades com mais de três horas de duração ao considerarmos o montante final de sudorese e a qualidade da reposição. O suor contém cerca de 30 a 60mEq/litros de sódio e 8 a 15mEq/litros de potássio. Portanto, quando se faz uma avaliação relativa, considerando-se as concentrações plasmáticas de ambos, verifica-se que a perda relativa de potássio é bem superior à de sódio. Entretanto, tendo em vista a grande concentração de potássio no meio intracelular, existe facilidade na sua reposição, o que não ocorre com o sódio, que depende essencialmente da fonte exógena.
 
              Em atletas de provas de longa duração, o mecanismo de desidratação se dá principalmente pela perda de suor, que pode chegar a ser de até dois litros/hora, sendo que fatores como as condições ambientais, condicionamento físico, aclimatação, grau de intensidade de esforço e tempo de exposição influenciam o volume da perda. Principalmente, mas não somente, as atividades de longa duração em climas quentes expõem o indivíduo às doenças relacionadas com o calor, sendo importante o diagnóstico do estado de hidratação nesse contexto. O uso de solução de reposição oral, recomendação que obrigatoriamente deve ser seguida pelos participantes de atividades de longa duração, inclusive os que percorrem trilhas, atividade que vem crescendo nos últimos anos, permite a adequada reposição de água, energia (carboidrato simples) e eletrólitos (principalmente o sódio). Portanto, a reposição ideal se faz por meio das soluções hidroglicoeletrolíticas, conhecidas popularmente como 'bebidas desportivas'.
 
             O grau de desidratação pode ser determinado pela massa corporal verificada imediatamente antes e após a atividade física, sendo a perda de cada 0,5kg correspondente a aproximadamente 480-500ml de líquido. A partir de certo ponto, a desidratação, que espolia os compartimentos intracelular e extracelular, acarreta diminuição do fluxo sanguíneo periférico e do ritmo da transpiração, podendo mesmo interromper a dissipação do calor.
 
             Desidratação leve e moderada causa sinais e sintomas como fadiga, perda de apetite, sede, pele vermelha, intolerância ao calor, tontura, oligúria e aumento da concentração da urina. A desidratação grave causa pele seca e murcha, olhos afundados, visão fosca, delírio, espasmos musculares, choque térmico e coma, podendo evoluir para óbito.
 
Hidratação

            Para se manter um nível adequado de hidratação em pessoas que praticam atividades físicas é necessário que ocorra uma ingestão de quantidades suficientes de líquidos antes, durante e após os exercícios.
 
             O consumo voluntário de bebidas esportivas é maior do que água devido a sua palatabilidade. A temperatura da bebida, a “doçura”, o sabor e a intensidade do gosto na boca, e a acidez são características que influenciam na palatabilidade e, em conseqüência, estimulam ou não o consumo de líquidos durante a atividade física.
 
            As bebidas isotônicas são assim chamadas porque em sua formulação a concentração principalmente de glicose e sódio seria equivalente às concentrações plasmáticas dos mesmos e isso lhes conferiria uma característica de mais rápida absorção e menor diluição do plasma. Atualmente, o termo “isotônico” foi substituído por “repositor hidroeletrolítico”, o qual se encaixa melhor com o objetivo de seu uso e porque as concentrações plasmáticas de eletrólitos e glicose são variáveis.
 
             As bebidas com fins de reposição de líquidos e eletrólitos são diferentes das bebidas chamadas de energéticas. Essas últimas possuem o objetivo de fornecer cotas de energia extras para aumentar o rendimento e não necessariamente são bons hidratantes. Uma característica comum das bebidas energéticas é uma concentração maior que 10% dos carboidratos e a presença de cafeína ou outros adicionais a depender da bebida. Ao passo que os repositores apresentam em média 6% de carboidrato e eletrólitos como sódio, cloro e potássio.
            Algumas das recomendações do American College of Sports Medicine sobre a quantidade e a composição dos líquidos que devem ser ingeridos antes, durante e após um exercício estão reproduzidas a seguir:
 
1. Recomenda-se que os indivíduos ingiram em torno de 500mL de líquidos nas duas horas que antecedem um exercício, para promover uma hidratação adequada e haver tempo suficiente para excreção da água ingerida em excesso;
 
2. Durante o exercício, os atletas devem começar a beber logo e em intervalos regulares, com o objetivo de consumir líquidos em uma taxa suficiente para repor toda a água perdida através do suor, ou consumir a maior quantidade tolerada;
 
3. Recomenda-se que os líquidos sejam ingeridos em uma temperatura menor do que a ambiente (entre 15 e 22ºC) e com sabor atraente;
 
4. Recomenda-se a adição de quantidades adequadas de carboidratos e eletrólitos para eventos com duração maior do que uma hora, já que não prejudica a distribuição de água pelo organismo e melhora o desempenho. Durante exercícios com duração inferior a uma hora, há pouca evidência de que haja diferenças fisiológicas em termos de desempenho caso sejam consumidos líquidos com carboidratos e eletrólitos ou água pura;
 
5. Recomenda-se a adição de sódio (0,5 a 0,7g.L1 de água) na solução de reidratação se o exercício durar mais do que uma hora. Isto pode ser vantajoso por melhorar o gosto, promovendo a retenção de líquidos e possivelmente revertendo a hiponatremia em alguns indivíduos que tenham ingerido quantidades excessivas de líquidos.
 
As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.
 
 
Referências Bibliográficas:
 American College of Sports Medicine – Position Stand: Exercise and fluid replacement. Med Sci Sports Exerc. 1996; v. 29: p. 1-11.
 
 Carvalho, T; Mara, LS. Hidratação e Nutrição no Esporte. Rev Bras Med Esporte 2010; v. 16, n. 2: p. 144-148.

 
 Guerra, I; Gomes, MR; Tirapegui, J. Hidratação no Esporte. Nutrição, Metabolismo e Suplementação na Atividade Física. 1 ed. Editora Atheneu, 2005; p. 107-118.
 
Guerra, I. Hidratação no Exercício. Estratégias de Nutrição e Suplementação no Esporte. 1 ed. Editora Manole, 2005; p. 151-168.
 
Moreira, CAM; Gomes, ACV; Garcia, ES; Rodrigues, LOC. Hidratação durante o exercício: a sede é suficiente? Rev Bras Med Esporte 2006; v. 12, n.6: p. 405-409.
 
 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Leite Materno



           O leite materno é o único alimento que garante qualidade e quantidade ideal de nutrientes para o bebê, apresentando concentrações ideais de proteínas, açúcares, gorduras, sais minerais e vitaminas.

            O leite secretado até três dias após o parto é denominado colostro. O colostro é um líquido amarelado e espesso com alta concentração proteica. Possui um menor teor de gordura e lactose. Sua composição caracteriza-se por menor teor energético, que é de 67kcal/dL, em comparação com o leite maduro, de 71kcal/dL. As concentrações de sódio, potássio, cloro e zinco são maiores nos primeiros dias de lactação. As vitaminas lipossolúveis A, E e carotenóides (responsáveis pela cor amarelada do colostro) estão presentes em altas concentrações.

            Os fatores mais conhecidos do colostro são as imunoglobulinas IgA, IgAs, IgG, IgM, IgD e IgE, as quais protegem a criança contra infecções que penetram na circulação através do trato gastrointestinal, inclusive contra a poliomelite, o vírus Coxsakie do gênero dos Enterovírus, a E. coli patogênica, as Salmonellas e as Sighellas.

             As concentrações de imunoglobulinas são altíssimas, especialmente a IgAs, e sofrem queda acentuada do primeiro ao terceiro dia de lactação. Mas a quantidade total fornecida mantém-se alta, devido ao aumento do volume de leite produzido. Por esse motivo é importante que a criança receba colostro nas primeiras 48h, nem que seja em pequenas quantidades.

              A composição do colostro, principalmente graças à presença do fator bífido, é responsável pelo crescimento da flora bacteriana específica caracterizada pela presença do Lactobacillus bifidus. O colostro também facilita a eliminação do mecônio (primeiras fezes do bebê). Atribui-se também a esse leite a propriedade antiinflamatória, uma vez que ele interfere nas atividades enzimáticas dos leucócitos polimorfonucleares.

               Aos fatores de defesa soma-se ainda a ação da lactoferrina, uma enzima quelante de ferro e que apresenta, portanto, ação bacteriostática, principalmente sobre a E. coli. A lactoferrina encontra-se em concentração elevada no colostro (600mg/dL) e mais baixa no leite maduro (180mg/dL). A lisozima é uma enzima que apresenta ação bactericida sobre a maioria das bactérias Gram-positivas. Atinge sua maior concentração no leite maduro (14 a 30mg/dL).

Leite maduro

          É o leite propriamente dito. Apresenta composição mais estável a partir do 15º dia após o parto.

► Proteínas: Só leite materno contém todos os aminoácidos essenciais em proporções adequadas para garantir o perfeito desenvolvimento do cérebro. O nível de proteína do leite materno não é afetado pelo consumo alimentar da mãe; assim, mesmo mães malnutridas apresentam o teor satisfatório de proteínas no seu leite.  A quantidade de proteína varia de 1,2 a 1,5g/dL. É representada por 60% de proteínas do soro (alfa-lactoalbumina, imunoglobulinas, enzimas) e 40% de caseína.

► Carboidratos: O leite materno é rico em lactose (o açúcar próprio do leite – 7,0g/dL) e, por isso, é bem mais adocicado que o leite de vaca. Além da lactose, o leite humano apresenta 0,8% de oligossacarídeos que, na presença de peptídeos, vai formar o fator bífido. Este, em um meio rico em lactose, vai produzir ácido láctico e succínio, diminuindo o pH intestinal e tornando o meio desfavorável à proliferação de enterobactérias. Além disso, a lactose favorece a absorção de cálcio e fósforo e essa ação pode ser considerada fator anti-raquitismo, mesmo quando o leite apresenta baixa concentração de cálcio e vitamina D.

► Lipídios:  A gordura do leite materno é rica em ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa essenciais para a perfeita formação da pele e do sistema nervoso central. A quantidade total de lipídios é de 3,5g/dL, sendo constituído por 97% de triglicerídios e quantidades pequenas de fosfolipídios, colesterol e ácidos graxos livres. A quantidade total de gordura do leite humano não sofre influência da dieta e da condição nutricional da mãe. Entretanto, os ácidos graxos são altamente influenciados pela origem genética e pelo tipo de gordura que a mãe ingere, e em geral o leite materno apresenta quantidades significativas de ácidos graxos essenciais para o bom desenvolvimento da criança.

► Minerais: A criança necessita de pelo menos 12 minerais em quantidade adequada para a formação de novos tecidos, mas 6 deles têm ação mais direta: cálcio, fósforo e magnésio, pela contribuição importante e fundamental na formação de tecido ósseo, influenciando na altura do indivíduo; potássio, por ser elemento intracelular e indispensável na formação protoplasmática; ferro é o principal elemento da hemoglobina e sua falta acarreta anemia, com repercussões para o crescimento e desenvolvimento adequado da criança. Tanto o leite materno quanto o leite de vaca são pobres em ferro, porém 50% do ferro presente no leite materno são absorvidos graças à sua alta biodisponibilidade, e, dessa forma, os bebês não apresentam anemia. O iodo participa de um dos hormônios mais diretamente ligados ao crescimento, o hormônio tireoidiano.

► Vitaminas:  Todas as vitaminas estão presentes em quantidades suficientes para atender as necessidades do lactente, com exceção da vitamina D, que deverá ser obtida pela exposição regular da criança à luz solar.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Batocchio, APR; Santos, AG; Coelho, CAR. Leite materno: considerações sobre nutrientes específicos e seus benefícios. Rev Bras Nutri Clin 2003; v.18, n.3: p. 36-41.

Lopes, PRA. As vantagens da Amamentação. Por que amamentar? Aleitamento Materno: um guia para pais e familiares. 1 ed. São Paulo: Atheneu, 2002; p. 5-21.

Vitolo, MR.. Fisiologia da Lactação e Composição do Leite Materno. Nutrição da Gestação ao Envelhecimento. 1 ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2008, p. 125-133.


Vitolo, MR. Aleitamento Materno e Alimentação da Nutriz.  Nutrição: da Gestação a Adolescência.  Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Editores, 2003; p. 63-73.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Recomendações Nutricionais Para Idosos

            No Brasil existiam 15 milhões de pessoas no ano de 2000 (8,6% da população) com
idade acima de 60 anos e a estimativa para 2025 é que este número alcance 32 milhões (13% da população).

      O desequilíbrio nutricional no idoso está reconhecidamente relacionado ao aumento da mortalidade, à susceptibilidade a infecções e à redução da qualidade de vida. Na senescência é comum a co-existência de doenças crônicas não transmissíveis, como as cardiovasculares, pulmonares, o diabetes mellitus, além do uso prolongado de medicamentos que interferem no apetite, no consumo e na absorção de nutrientes.

        Os hábitos alimentares mudam com o avanço da idade devido às diferentes necessidades de energia e nutrientes e, também, devido a outros fatores, como as informações de saúde pública que relacionam dieta e saúde, como mudança nos preços dos itens alimentares e mudanças no decréscimo da saúde e atividade física dos indivíduos.

          Mantendo os idosos em bom estado nutricional, pode-se ajudá-los a manter sua saúde e independência diminuindo, com isso, as demandas dos cuidados institucionais – e a melhorar a qualidade de vida. A importância de um bom estado nutricional na manutenção da independência, entre os idosos, não pode ser exagerada.

Recomendações Nutricionais

Energia: Homens (mais de 51 anos) – 2.300kcal.
                Mulheres (mais de 51 anos) – 1.900kcal.

Obs: Não foram estabelecidas recomendações de energia para diferentes faixas etárias acima dos 51 anos.

Carboidratos: Segundo o Institute of Medicine, a necessidade de carboidratos varia de 45 a 65% do total energético. Tanto para homens e mulheres acima de 51 anos, a quantidade de carboidrato total deve ser de aproximadamente 130g/dia. Recomenda-se o uso de carboidratos complexos para maior oferta de vitaminas, minerais e fibras.

Proteínas: As necessidades de proteínas variam de 10 a 35% do total energético diário, sendo de 0,8 a 1,0g de proteína/kg/dia. A RDA (ingestão dietética recomendada) de proteína para homens é de 56g e 46g para mulheres. Devemos priorizar fontes protéicas de alto valor biológico, como carnes, miúdos, ovos, leite e seus derivados. Proteínas de origem vegetal como feijão e soja são complementares. Em caso de alteração da função renal, dieta hipoprotéica de até 0,6g de proteína/kg.

Lipídios: Devem corresponder de 20-35% do consumo energético. A gordura saturada não deve exceder 8% da gordura total. São encontradas em carnes, ovos, leite e derivados.  A ingestão de ômega-3 deve ser de 0,6 a 1,2g/dia, encontrado em óleos de canola, linhaça, salmão, arenque, sardinha e algas; e a de ômega-6, de 5 a 10g/dia, sendo encontrado em nozes, castanhas, sementes e óleo de soja, girassol e milho. O consumo de colesterol não deve ser superior a 300mg/dia.

Minerais: Cálcio → Homens (51-70 anos) – 1.200mg
                                 Mulheres (51-70 anos) – 1.200mg.

Obs: As fontes alimentares de cálcio são iogurte, leite, queijo, amêndoas, espinafre, tofu, avelã, couve e etc.

                   Ferro → Homens (51-70 anos) – 8mg.
                                 Mulheres (51-70 anos) – 8mg.

Obs: A deficiência de ferro pode ser identificada pelos níveis de ferritina sérica, transferrina e dosagem de ferro sérico. O nível de ferritina pode ter sua interpretação dificultada pela presença de doenças inflamatórias e, portanto, em qualquer inflamação pode estar elevada. O consumo de uma porção de carne (150g), diariamente, atinge praticamente metade dessa recomendação.

                  Zinco → Homens (51-70 anos) – 11mg.
                                 Mulheres (51-70 anos) – 8mg.

Obs: As fontes de zinco são carnes vermelhas e brancas, fígado, castanhas, leguminosas e frutas.

                   Magnésio → Homens (51-70 anos) – 420mg.
                                         Mulheres (51-70 anos) – 320mg.

Obs: Os vegetais folhosos são as melhores fontes, seguidos por legumes, produtos marinhos, nozes, cereais e derivados do leite. A água também contém magnésio, em concentração que pode variar de 1 a 16µ/g.

                    Fósforo → Homens (51-70 anos) – 700mg.
                                       Mulheres (51-70 anos) – 700mg.

Obs: As fontes de fósforo são semente de abóbora seca, soja assada, amêndoa, Castanha-do-Brasil, semente de girassol, sardinha, amendoim e etc.

                    Selênio → Homens (51-70 anos) - 55µg.
                                      Mulheres (51-70 anos) - 55µg.

Obs: A Castanha-do-Brasil é o alimento mais rico em selênio.

Vitaminas:  Vitamina D → A ingestão inadequada de vitamina D pode aumentar a perda óssea e o risco de osteoporose. A redução dos níveis de 25-hidroxi vitamina D em idosos, resultado da diminuição da ingestão e da falta de exposição à luz solar, pode promover a menor eficiência da síntese de vitamina D na pele. A recomendação tanto para homens quanto mulheres (50-70 anos) é de 10µg e homens e mulheres (acima dos 70 anos) é de 15µg. Fontes alimentares: Leite e derivados, ovos, margarinas, peixes. 

                   Vitamina A → As recomendações de vitamina A são de 900µg para homens e 700µg para mulheres de 51 a 70 anos e acima de 70 anos. Fontes alimentares: fígado, leite e derivados, ovos, cenoura, batata doce, manga, espinafre, folhas de brócolis e etc.

Obs: O consumo de um bife de fígado (120g) uma vez por semana ou uma porção pequena de alimentos amarelos ou verde-escuros três vezes por semana, garantem reservas adequadas.

                 Vitamina C → A RDA de vitamina C são de 90mg para homens e 75mg para mulheres acima de 50 anos. O consumo diário de 2 frutas e 1 porção de verduras que sejam fontes de vitamina C é suficiente para se alcançar a RDA do idoso, como por exemplo, um copo de suco de laranja (94mg) ou 2 unidades de tomate (60mg), 1 copo de suco de morango (70mg), 1 unidade de kiwi (75mg), 1 fatia média de mamão (78mg).

                  Vitamina B12 → Atrofia gástrica, medicamentos e anemia perniciosa podem causar deficiência de vitamina B12 em idosos e, em alguns estudos, esta se associa a redução da cognição e à doença de Alzheimer. A recomendação de vitamina B12 é de 2,4µg para homens e mulheres de 51 a 70 anos e acima de 70 anos.

Obs: Alimentos de origem animal são as únicas fontes naturais de vitamina B12, como produtos lácteos, carne, fígado, peixes, ovos.

Fibras: A constipação em idosos é muito comum devido ao fato de estes indivíduos apresentarem dificuldades físicas para evacuação. A alimentação pobre em fibras e a reduzida ingestão de água são os principais causadores da alteração do hábito intestinal. Algumas das causas são a salivação diminuída e a dificuldade na mastigação que levam a um aumento da ingestão de alimentos refinados e pobres em fibras e baixa ingestão de água. A falta de atividade física também contribui para o agravamento do problema. A recomendação para homens de 50-70 anos e mais de 70 anos é de 30g/dia; para mulheres de 50-70 anos e mais de 70 anos é de 21g/dia.

Água: A água deve merecer atenção especial, principalmente nesta faixa etária, na qual a desidratação é o distúrbio hidroeletrolítico mais comum. O sistema renal diminui sua capacidade com a idade, assim como os idosos sentem menos sede que os mais jovens, gerando uma privação de água. Esta pode ocorrer por um distúrbio cognitivo, pela diminuição da sede ou por debilidade física. Contudo, a água deve ser controlada, assim como a dieta e os medicamentos, principalmente, para idosos que requerem um maior cuidado. A recomendação para homens de 50-70 anos e mais de 70 anos é de 3,7L/dia; para mulheres de 50-70 anos e mais de 70 anos é de 2,7L/dia.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Cozzolino, SMF. Biodisponibilidade de Nutrientes. 1 ed. São Paulo: Manole, 2005.

Félix, LN; Souza, EMT. Avaliação nutricional de idosos de uma instituição por diferentes instrumentos. Rev Nutr 2009; v.22, n.4: p. 571-580.

Gonsales, SCR; Alvarez, TS; Oliveira, PA; Cukier, C; Magnoni, D. Recomendações e Necessidades Diárias. Nutrição na Terceira Idade. 1 ed. São Paulo: Sarvier, 2005, p. 37-42.

Institute of Medicine (IOM). Dietary Reference Intakes. Washington: National Academy Press, 2000. Disponível em: www.nap.edu Acessado em: 16/01/2014.

Necessidades nutricionais no idoso. Disponível em: www.nutrociencia.com.br Acessado em: 16/01/2014.

Passero, V; Moreira, EAM. Estado nutricional de idosos e sua relação com a qualidade de vida. Rev Bras Nutr Clin 2003; v.18, n.1: p.1-7.


Pfrimer, K; Ferriolli. Recomendações nutricionais para idosos. Nutrição da Gestação ao Envelhecimento. 1 ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2008, p. 451-457.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Diabetes: Situações Especiais


        Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o diagnóstico de diabetes melito (DM) deve ser confirmado pela glicemia de jejum igual ou superior a 140 mg/dl, ou glicemia, 120 min após a sobrecarga de 75 g de glicose, igual ou superior a 200 mg/dl

            Quando seus exames mostrarem valores mais altos, recomenda-se:

► Manter a dieta recomendada pelo nutricionista;

► Aumentar a ingestão de água para prevenir a desidratação;

► Manter o consumo de frutas recomendado na dieta;

► Utilizar alimentos de fácil digestão, com pouca gordura e sem muitos temperos industrializados;

► Comer pequenas quantidades;

► Fazer de 5 a 6 refeições.

            Quando a taxa de glicose está baixa, menor que 50, chamamos de hipoglicemia. Para evitar a hipoglicemia recomenda-se:

► Fazer 6 refeições por dia se usar insulina e no mínimo 4 se não usar;

► Não atrasar o horário das refeições;

► Não diminuir a quantidade de alimentos e o número de refeições por conta própria;

► Informar ao nutricionista e ao médico se está fazendo exercício físico, pois o plano alimentar, o horário das refeições e a medicação poderão ser alterados;

► Evitar bebidas alcoólicas.

Festas
 

          É conveniente que você sempre se alimente em casa ante de sair, ingerindo 1/3 ou a metade da alimentação habitual para aquele horário, para evitar a hipoglicemia.

            Nas festas, procure consumir os alimentos recomendados, como por exemplo: preferir os alimentos assados ao invés dos fritos, consumir saladas e frutas, refrigerantes diet ou light e usar as quantidades recomendadas em seu plano alimentar.

Restaurantes

            Alguns cuidados que devem ser tomados:

● Evitar atrasar o horário das refeições;

● Escolher locais que ofereçam maior variedade (restaurantes self-service costumam ter boa variedade);

● Procure escolher refeições saudáveis: peça salada como entrada; controle a quantidade de carne, muitas vezes a porção é grande e pode ser dividida para duas pessoas; escolha preparações sem molhos e sem queijos. Prefira os pratos grelhados.

● Mantenha as quantidades recomendadas em seu plano alimentar, ou seja, sirva seu prato da mesma forma que faz em casa.

Bebidas

Use

● Água mineral gasosa (pode incrementar com rodelas de limão);

● Limonada com adoçante;

● Refrigerante light ou diet (com moderação);

● Chá;

● Café (com moderação).

Bebidas Alcoólicas

            Os diabéticos devem evitar o consumo de bebidas alcoólicas porque:

● Contêm calorias, podendo aumentar o peso corporal;

● Podem causar hipoglicemia quando consumidas em jejum;

● Podem aumentar os níveis sanguíneos de triglicerídios;

● Pessoas que usam alguns tipos de medicação podem ter fortes reações com o uso de álcool (dor de cabeça intensa, náuseas, vermelhidão na face e outros).

      O consumo de bebida alcoólica por diabéticos bem controlados é aceito com a supervisão do médico e nutricionista.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Costa ACF, Rossi A, Garcia NB, et al. Análise dos critérios diagnósticos dos distúrbios do metabolismo de glicose e variáveis associadas à resistência insulínica. J Bras Patol Med Lab. 2003; v.39, n.2: p.125-30.


Guia Alimentar Para Pessoas com Diabetes Tipo 2. Disponível em: www.nutricao.saude.gov.br Acessado em: 08/08/2013.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Câncer do Colo do Útero

         No Brasil, estima-se que o câncer de colo de útero seja a terceira neoplasia maligna mais comum nas mulheres, sendo superado pelos cânceres de pele e de mama, e que seja a quarta causa de morte por câncer em mulheres.

    Os principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer do colo de útero são: início precoce das atividades sexuais, multiparidade, tabagismo, multiplicidade de parceiros sexuais, parceiros sexuais masculinos com múltiplas parceiras, lesão genital provocada por infecção pelo vírus papilomavírus humano (HPV) do tipo oncogênico, baixas condições socioeconômicas, infecções genitais de repetição, alimentação pobre em alguns micronutrientes, principalmente vitamina C, betacaroteno e folato, e o uso prolongado de anticoncepcionais.

            O HPV é o principal fator etiológico do câncer do colo uterino, porém estudos afirmam que a infecção por esse vírus é apenas uma etapa inicial, ele por si só pode ser insuficiente para causar o câncer. Pesquisas indicam que alguns nutrientes antioxidantes, como as vitaminas A, E e C, podem inibir a formação de radicais livres e a evolução de lesões malignas no epitélio do colo uterino, atuando como moduladores da resposta imune frente à presença e/ou à persistência da infecção por HPV, impedindo a progressão da NIC (neoplasia intraepitelial cervical) e consequentemente o desenvolvimento do câncer cervical.

Diagnóstico

Lesões pré-cancerosas (ou mesmo o câncer de colo de útero em seus estágios iniciais) geralmente não apresentam sintomas. Estes só aparecem nos casos mais avançados. E o aparecimento de qualquer dos sintomas a seguir deve ser comunicado ao médico:
  • Aparecimento de secreção, corrimento ou sangramento vaginal incomum;
  • Sangramento leve, fora do período menstrual;
  • Sangramento ou dor após a relação sexual, ducha íntima ou exame ginecológico.
Esses sintomas não significam que a mulher tem câncer. Podem indicar vários outros problemas, mas revelam que é preciso consultar um médico.

Se suspeitar de lesão pré-cancerosa ou de câncer, o médico poderá pedir novos exames, entre eles:
 

Colposcopia

Esse exame permite examinar o colo do útero através de um aparelho chamado colposcópio, que se assemelha a um par de binóculos. Ele produz uma imagem ampliada entre 10 a 40 vezes, permitindo que o médico identifique lesões imperceptíveis a olho nu.
 

Biópsia

Remoção de uma amostra de tecido, que será analisada ao microscópio para ver se há células cancerosas.
 

Exame de Papanicolaou

 

Ele pode detectar as lesões pré-cancerosas causadas pelo HPV que, tratadas, detêm o problema antes que ela assuma a forma invasiva. Geralmente este exame é feito durante o exame ginecológico e consiste na análise microscópica de células do colo de útero obtidas através de uma leve raspagem.
  • Todas as mulheres devem fazer o Papanicolaou anual a partir dos 21 anos ou a partir do terceiro ano após o início de sua vida sexual;
  • A partir dos 30 anos, mulheres que tiveram três Papanicolaous normais seguidos podem fazer o teste a cada 2 ou 3 anos ou fazer o Papanicolaou a cada 3 anos junto com o teste de DNA de HPV se negativo;
  • Mulheres expostas a certos fatores de risco (portadoras do HIV ou com problemas de sistema imunológico) devem fazer o exame anualmente;
  • Mulheres com 70 anos ou mais que tiveram 3 ou mais testes normais em seqüência (e nenhum resultado anormal em 10 anos) podem parar de fazer exames;
  • Mulheres submetidas a histerectomia total (retirada do útero e colo do útero) por motivo outro que não o câncer ou lesão pré-cancerosa também podem parar de fazer o exame;
  • As submetidas à histerectomia parcial devem continuar com os exames de rotina.
 
Vitaminas Antioxidantes


         Estudos epidemiológicos encontraram associação entre as ações de nutrientes e o risco para câncer cervical, com base na ingestão de vitaminas antioxidantes e no pool circulante desses nutrientes, que refletem padrões dietéticos. Estudos de revisão com carotenoides (betacaroteno encontrado na cenoura, folhas verde escuras, vegetais de cor amarela e laranja; e o licopeno encontrado no tomate, melancia, mamão e goiaba), vitamina C (encontrada nas frutas cítricas principalmente) e a vitamina E (tocoferois encontrados nos óleos vegetais) demonstraram que esses podem ser agentes de proteção principalmente nos estágios iniciais da carcinogênese cervical, protegendo contra a persistência e a progressão subsequente de infecções por HPV, porém alguns achados em outros estudos foram imprecisos.

► Vitamina A

         Vitamina A é um termo genérico utilizado para descrever qualquer composto que possua atividade biológica de retinol: retinol (álcool), retinol (ácido) e os carotenoides. O termo pró-vitamina A é também genérico, e utilizado para descrever os carotenoides que exercem função de vitamina A, os mais comuns e presentes na dieta são alfacaroteno, betacaroteno, licopeno, luteína, zeaxantina e betacriptoxantina.
 
O betacaroteno é o carotenoide encontrado na natureza com maior poder de formação de vitamina A e é capaz de conferir proteção contra diversos tipos de tumores em animais. Os retinoides estão envolvidos em numerosos processos fisiológicos, incluindo a diferenciação celular e a apoptose, que é a morte celular programada. Eles inibem o crescimento de células malignas no epitélio escamoso, atuando no crescimento e no controle da diferenciação celular.

O ácido retinoico é o mais fisiologicamente ativo. O retinol circula em um complexo com proteína plasmática ligadora de retinol e pré-albumina, essa proteína entrega o retinol aos sítios intracelulares, onde são convertidos a ácido retinoico. A ação de prevenção do câncer cervical se daria pelo poder que o ácido retinoico tem de alterar a expressão genética especificamente em tecidos-alvo como o do colo do útero, a maior limitação é decifrar como o ácido retinóico cumpre essa tarefa. Além disso, os ácidos retinoicos são moduladores potentes do crescimento e da diferenciação epitelial, o que inibe desenvolvimento do HPV, evitando assim o câncer cervical. Entre as funções dos carotenoides, está a capacidade de inibir a oxidação de compostos pelos peróxidos, sendo também moduladores potentes do crescimento e da diferenciação celular. Eles inibem o crescimento de células malignas no epitélio escamoso do colo uterino e induzem a inibição do desenvolvimento do HPV e conseqüentemente a evolução das lesões displásicas.

► Vitamina C


     O ácido ascórbico é uma vitamina hidrossolúvel e antioxidante que reage diretamente com o oxigênio simples, radical hidroxila e radical superóxido, além de regenerar a vitamina E. Além disso, essa vitamina poupa a glutationa peroxidase, que é um importante antioxidante intracelular e cofator enzimático. A vitamina C tem papel importante na manutenção do tecido normal epitelial e na regeneração da epiderme, além de ter a função de evitar a formação de carcinógenos a partir de compostos precursores, podendo inibir a carcinogênese pelos seguintes mecanismos: alteração da estrutura do carcinógeno, inibição competitiva, prevenção de acesso do carcinógeno ao tecido-alvo por estabilidade crescente da membrana.

Análises laboratoriais indicam que níveis mais baixos de vitamina C do soro eram mais comuns em pacientes com câncer cervical que os controles. Verificou através de pesquisa observacional que a progressão do HPV à NIC está associada à baixa ingestão de vitamina C; porém outro estudo observacional obteve resultado inconsistente quanto à prevenção do câncer do colo uterino com vitamina C.

► Vitamina E
       
     A família de vitaminas lipossolúveis E é composta pelos tocoferóis (alfa, beta, gama, os deltatocoferois) e os tocotrienois, todos com provável atividade antioxidante. Essa função exercida por meio da inibição da peroxidação lipídica protege a integridade das membranas biológicas.

    A vitamina E é outro antioxidante dietético de grande importância, e sua forma mais ativa biologicamente é o alfatocoferol. Sua função como antioxidante é proteger os tecidos adiposos do ataque de radicais livres, como por exemplo, a formação de radicais peróxidos a partir de ácidos graxos poliinsaturados nas membranas fosfolipídicas. A vitamina E é capaz de inibir o crescimento das células malignas. Ela impede que as células tumorais continuem o ciclo celular, interrompendo-o na fase G1 e conduzindo à apoptose. Em estados de deficiência dessa vitamina, os danos celulares causados pela produção de radicais livres pelo tumor causam peroxidação lipídica e destruição celular.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.


Referências Bibliográficas:

Colo do Útero. A.C. Camargo Cancer Center. Disponível em: www.accarmargo.org Acessado em: 03/01/2014.

Falando sobre Câncer do Colo do Útero. Ministério da Saúde. Disponível em: www.bvsms.saude.gov.br Acessado em: 03/01/2014.


Sampaio, LC; Almeida, CF. Vitaminas antioxidantes na prevenção do câncer do colo uterino. Rev Bras Cancerologia 2009; v.55, n.3: p. 289-296.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Hiperglicemia Não-Cetótica


 A hiperglicemia não-cetótica (HGNC) é um erro inato do metabolismo da degradação da glicina, no qual grandes quantidades deste aminoácido são acumuladas em todos os tecidos orgânicos, incluindo o sistema nervoso central.

        A glicina é um aminoácido simples, com duas moléculas de carbono, e é encontrada na maioria dos alimentos. Pode ser facilmente sintetizada no organismo a partir da serina, não sendo considerada um aminoácido essencial. Dessa forma, não há possibilidade de exclusão da dieta dos pacientes que não conseguem degradá-la. Sua degradação pode ser convertida em glicose e em glicogênio, via piruvato. A dieta de um adulto normal tem de 1 a 5g de glicina por dia. Glicina é encontrada na estrutura de proteínas como colágeno, elastina e gelatina. A maioria das reações sinápticas centrais são realizadas pelos aminoácidos glutamato, ácido gama amino-butírico (GABA) e glicina. O neurotransmissor mais excitante é o glutamato e o GABA é o mais inibidor.
         
      A glicina atua também como neurotransmissor e, embora participe de muitas reações metabólicas, os sintomas encontrados na HGNC são decorrentes da sua função como neurotransmissor. Na medula espinhal e no tecido cerebral, ela tem efeito inibitório, explicando a hipoatividade, a hipotonia e o estado comatoso observado nas crianças com HGNC. No córtex cerebral, ela tem uma ação excitante, no complexo receptor N-metil-D-aspartato. O excesso de estimulação neste complexo, provavelmente, explica as convulsões intratáveis e as lesões cerebrais. A HGNC pode, portanto, ser considerada um erro inato do metabolismo dos neurotransmissores.

     A HGNC é uma doença rara no nosso meio, apresentando herança autossômica recessiva. A incidência é desconhecida, embora seja mais frequente na Finlândia, onde há registros de 1:12.000 nascidos vivos. A maioria dos pacientes tem acometimento no período neonatal, com letargia nos primeiros dias de vida, hipotonia muscular, convulsões mioclônicas e apneia com soluços, frequentemente evoluindo para a morte nos primeiros meses de vida. Aqueles pacientes que conseguem manter uma respiração espontânea, desenvolvem convulsões intratáveis e retardo mental severo. O diagnóstico é estabelecido calculando a relação das concentrações de glicina encontradas no líquido céfalo-raquidiano e no plasma (relação > 0,08).

     Diversos autores tem recomendado a simples restrição proteica na dieta (1 a 2g de proteína/kg/dia), além do uso oral de benzoato de sódio, que aumenta a conjugação e eliminação urinária da glicina. Outros autores associam um bloqueador do complexo canal-receptor do N-metil-D-aspartato: o dextrometorfano, conhecido habitualmente como depressor da tosse. Outros ainda associam L-carnitina com o benzoato, devido a identificação de deficiência de carnitina em alguns pacientes ou, ainda, a imipramina. A carnitina pode acelerar a conjugação da glicina com o benzoato.

         Atualmente, é crescente o reconhecimento de patologias decorrentes de erros inatos do metabolismo, tornando importante o diagnóstico pré-natal na prevenção das complicações após o nascimento. Talvez, no futuro, seja possível alcançar uma terapêutica genética que consiga efetivamente reverter essas alterações metabólicas congênitas.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:


Souza, MSFS; Breinis, P;Lopes, MM; Rizzo, MCFV; Hirschheimer, MR; Ramos, SRT. Hiperglicêmica não cetótica. Rev Bras Nutr Clin 2002; v.17, n.2: p.58-61.