quinta-feira, 30 de outubro de 2014

TERAPIA NUTRICIONAL PARA PACIENTES COM CÂNCER

O câncer é a uma degeneração da função celular que ao se multiplicar ataca os demais órgãos lhes causando danos que podem paralisar completamente.

O desenvolvimento do câncer resulta de uma interação entre fatores endógenos e ambientais. Acredita-se que os tipos de câncer podem ocorrem através de interação de dietas e hábitos de vida inadequados. Estudos realizados em alguns países revelam que uma alimentação saudável ajuda na prevenção de doenças, incluindo diversos tipos de câncer.

O aumento de atividade física, da manutenção de peso corporal e do não uso do tabaco promove modificações para se adotar uma dieta mais saudável, podendo reduzir cerca de 60% a 70% a incidência de câncer no mundo.

A dietoterapia ou terapêutica nutricional é a parte fundamental no tratamento e na qualidade de vida de pacientes oncológicos em cuidados paliativos, uma vez que um dos prazeres que ainda pode estar conservado é o consumo de alimentos.

Para a intervenção nutricional, faz-se necessário conhecer o perfil nutricional desses doentes, a fim de permitir melhor manejo, reduzir as complicações, de forma a manter ou recuperar o estado nutricional. Para sucesso no tratamento, o paciente deve procurar um profissional nutricionista desde o início para evitar a desnutrição ou recuperar o bom estado nutricional.

 A alimentação é de vital importância para a sobrevivência do ser humano, pois é a partir dela que ingerimos os nutrientes essenciais para que as atividades metabólicas sejam realizadas. Na atualidade a má alimentação tem sido fator preponderante para o aparecimento de uma série de enfermidades. A ingestão excessiva de produtos industrializados, comidas com alto teor calórico tem cooperado bastante para agravar mais essa situação. Uma alimentação saudável contribui bastante para a prevenção de inúmeras doenças, como colesterol, hipertensão arterial, diabetes, e outras, inclusive alguns tipos de cânceres.

Há várias evidências que a alimentação tem um papel importante nos estágios de iniciação, promoção e propagação do câncer. Entre as mortes por câncer atribuídas a fatores ambientais, a dieta contribui com cerca de 35%, seguida pelo tabaco com 30% e outros, como condições e tipo de trabalho, álcool, poluição e aditivos alimentares, os quais contribuem com menos de 5%. Acredita-se que uma dieta adequada poderia prevenir de 3 a 4 milhões de casos novos de cânceres a cada ano.

Nos estudos que envolvem câncer e dieta em diversas populações, um dos temas mais discutidos é a existência de uma diferença na incidência das várias formas de câncer, que pode estar relacionada às variações na ingestão de determinados componentes da dieta.

O planejamento alimentar é a parte fundamental do tratamento do câncer. Uma alimentação correta durante essa fase pode contribuir para o bem estar e fortalecimento, evitando a degeneração dos tecidos do corpo e ajudando a reconstruir aqueles que o tratamento possa ser prejudicado. Pacientes com uma boa alimentação durante o tratamento tem mais condições de vencer os efeitos colaterais e de enfrentar, com êxito, a administração de doses mais altas de certos medicamentos, adquirir menos infecções e estarem aptos a ter uma vida normal. Os efeitos colaterais do tratamento podem ser amenizados com uma alimentação adequada. Portanto, é preciso encontrar maneiras de se alimentar. Nesse sentindo, o uso de suplementos alimentares vem ganhado espaço no processo de nutrição de pacientes com câncer.
           

Recomendações para alimentação saudável: Pesquisas realizadas em diversos países mostram que milhares de pessoas desenvolvem alguns tipos de câncer ou irão desenvolver futuramente. Cientistas afirmam que uma alimentação saudável, rica em proteínas, vitaminas e outros, é um grande aliado no combate a inúmeras doenças inclusive alguns tipos de câncer. Alguns alimentos como as leguminosas tem um grande potencial em vitaminas que ajudam o organismo a produzir anticorpos aumentando assim as defesas do organismo no combate as enfermidades.

A terapia nutricional adequada melhora a resposta clínica e o prognóstico do paciente. A intervenção nutricional pode ser realizada por meio de suplementação oral, nutrição enteral e/ou parenteral, desde que se avaliem seus benefícios, indicações e contra-indicações.

Como exposto, estudos epidemiológicos têm apontado o papel protetor da dieta contra o desenvolvimento do câncer. O Comitê de peritos da World Cancer Research Fund, desenvolveram as principais recomendações, visando à prevenção do câncer.

Sabemos que uma alimentação saudável, rica em nutrientes, auxilia não só na prevenção de outras doenças como também na prevenção e no tratamento do câncer, pois alguns nutrientes, essenciais para o bom funcionamento do nosso organismo, podem melhorar a imunidade, atuar na supressão do tumor e ajudar a evitar a caquexia – estado de desnutrição e emagrecimento – comum em pacientes com câncer. É possível combatê-lo a partir de hábitos saudáveis, que apesar da carga genética ser um fator importante no desenvolvimento do câncer, em muitos casos, a doença tem relação direta com a alimentação e o estilo de vida.

Texto elaborado por: Dra. Juliana Gonçalves

Nutricionista. Mestre e Doutora em Ciências da Saúde pelo Instituto de Cardiologia, RS.
 Especialista em Nutrição Clínica pela ASBRAN.
Especialização em Fitoterapia pela Universidade de Léon (Espanha).
Especialização em Nutrição Clínica pela Faculdade CBES.
Autora do Manual de Atendimento em Nutrição Estética, 2ª edição, editora IPGS (2011).
Coautora do livro Atendimento Nutricional em Cirurgia Plástica - Uma Abordagem Multidisciplinar, editora Rúbio (2013).

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

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GOMES, F.S.; COUTO; S.G. Alimentação em favor da vida: a prevenção do câncer na ótica da promoção da saúde. Rev. APS 2010;  13(3): 391-2.

INCA (Instituto Nacional do Câncer). Estimativa 2010: Incidência de câncer no Brasil.

KALLIANPUR, A.R.; LEE, S.A; GAO, Y.T; LU, W.; ZHENG, Y. et al. Dietary animal-derived iron and fat intake and breast cancer risk in the Shanghai Breast Cancer Study. Breast Cancer Research and Treatment 2008; 107 (1): 123-32.

MACHADO, M.; SOUSA, A.; COELHO, N.; CHAVES, D. O alho e acebola na prevenção do câncer. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão – IFMA 2011.

Nunes, C.P.; LEITE, I.C.G.; CARMO, W.F.S.A. Consumo alimentar e câncer de mama: revisão de estudos publicados entre 2000 e 2008. Rev. APS 2009; 12 (3): 328-38.
Silva CM, Burgos MGPA, Moura ISC.  Perfil nutricional de pacientes oncológicos submetidos à terapia nutricional enteral.  Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 149-54.

Toscano BAF, Coelho MS, Abreu HB, Logrado MH, Fortes RC. Câncer implicações nutricionais. Comun ciênc saúde 2008; 19 (2): 171-180.


VAN GILS CH et al. Consumption of vegetables and fruits and risk of breast cancer. JAMA 2005;  293 (2): 183-93.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Perda de Peso

A obesidade é definida como o acúmulo de gordura corporal, resultando em excesso de peso. A maneira mais frequentemente utilizada para quantificar a obesidade é por meio do índice de massa corporal (IMC). Indivíduos com IMC acima de 25 kg/m² são classificados como portadores de sobrepeso e com IMC maior ou igual a 30 kg/m² são considerados obesos.

O excesso de peso é um problema atual de saúde pública nas diversas populações, e a perda de peso tem sido uma preocupação comum na população em diferentes faixas etárias. Nesse cenário, é atraente a ideia de perda de peso rápida sem a adoção da estratégia de redução da ingestão de energia proveniente da dieta e aumento do gasto energético a partir de prática regular de atividade física.

Quando você decide que quer emagrecer, precisa adquirir confiança em si mesmo, acreditar que vai obter resultados, mesmo que demore algum tempo, mas que seja para toda a vida. E a única forma de conseguir isso é mudando a cabeça e as atitudes no que se refere à sua alimentação. A princípio, tenha em mente o seguinte: você deve emagrecer comendo. Comer é um ato social. Mas escolher e comer certo são tarefas que se deve aprender e exercitar.

 Não conte calorias. Caloria é um combustível, resultado da transformação dos alimentos pelo nosso organismo. Sem ela, não dá para executar atos simples, como falar, ler, piscar os olhos. Toda ação do nosso corpo exige uma quantidade de calorias para ser executada. A primeira regra básica para conseguir ou manter o peso ideal: se você ingere a quantidade adequada e necessária de calorias para fazer suas atividades diárias, não ganha peso nem emagrece.

Mas se consumir mais do que gasta, começa a estocar calorias em forma de gordura. Portanto, para eliminar peso, o caminho é o inverso. Se você gasta 2.000 calorias em suas atividades físicas diárias, mas só consome 1.500, seu corpo precisa compensar a diminuição do consumo, recorrendo ao estoque de gorduras para transformá-las em energia. Resultado: você emagrece.

Carboidratos e gorduras

      Quando o organismo precisa de calorias, primeiro ele utiliza os carboidratos, porque são mais fáceis de ser metabolizados e transformados em energia. As gorduras armazenadas só serão utilizadas como combustível depois que o estoque dos açúcares chegar ao fim. Isso poderia fazer você achar que, ao eliminá-los definitivamente da sua alimentação, vai conseguir emagrecer com mais facilidade. Mas não é o que acontece. Se o seu corpo utiliza diretamente a reserva, acredita que está em estado de carência e acaba reagindo a isso: economiza, ao máximo, suas reservas, para suprir necessidades de sobrevivência dos órgãos. Resultado: o processo de emagrecimento até ocorre, mas de forma lenta. Se você consome algum carboidrato e alguma gordura, eles são usados rapidamente e dão início ao processo de queima, acelerando o metabolismo.

       Os alimentos são ingeridos, metabolizados e podem ser armazenados pelo organismo. Ao consumir uma quantidade maior do que seu corpo é capaz de estocar – para utilização em momentos quando não há ingestão de alimentos -, ocorre a transformação do excesso em gordura, ocasionando aumento de peso. Esta situação pode acontecer quando você come, por exemplo, uma segunda fatia de bolo, repete uma sobremesa ou come mais duas fatias de pizza.

        Não se pode dispensar a gordura da alimentação diária. Elas são importantes em diversas funções, como a proteção térmica e a regulagem da temperatura do corpo. Outra função das gorduras é que transportam certas vitaminas que você ingere (A, D, E, K), que são imprescindíveis para sua saúde.

Efeito sanfona

         Os seres humanos são perfeitamente capazes de comer quando não estão com fome, motivados por ocasiões sociais, horários pré-estabelecidos, eventos gastronômicos, ou pela simples vergonha de recusar um alimento oferecido por um amigo. Somos também capazes de restringir o consumo alimentar, como nos casos dos regimes de emagrecimento. Os regimes alimentares podem desregular nosso equilíbrio e o comportamento alimentar.

         O fato de alternar fases de extremo controle da alimentação, baseadas em dietas restritivas, vai causar uma perda de peso rápida, mas temporária. O mais comum é que o indivíduo recupere o peso perdido meses ou anos depois. Os estudos falam de até 95% de recaídas 2 anos após o regime. Não há mudança de comportamento, apenas uma restrição alimentar temporária, que resulta simplesmente no efeito sanfona.

A perda de peso, quando é rápida, gera uma perda de massa magra (músculos e água), muitas vezes maior do que a perda de gordura corporal. Na recuperação do peso perdido, quando o indivíduo “larga” a dieta restritiva e passa a se alimentar como antes ou até mais, há o ganho de peso, em sua maioria na forma de gordura. Com o tempo de efeito sanfona, a composição corporal do indivíduo muda, diminuindo as taxas de massa magra e aumentando as taxas de gordura. Como conseqüências a essa mudança na forma corporal, há uma diminuição do gasto energético do organismo (porque o músculo gasta mais energia que a gordura), e esse acúmulo de gordura corporal pode ainda deixar o indivíduo mais propenso a desenvolver doenças crônicas, como problemas cardiovasculares, diabetes e hipertensão, sobretudo se o acúmulo maior de gordura for maior na região abdominal. Isso sem contar que o fato de emagrecer e engordar pode afetar o funcionamento do coração: imagine um coração que bombeia sangue para um corpo de 60 kg, que 2 meses depois passa a bombear sangue para o mesmo corpo, agora com 50 kg. Se mais 2 meses após esse coração tiver que bombear o sangue para o mesmo corpo, mas agora com 70 kg, o trabalho cardiovascular será bem diferente! São 20 quilos de diferença.

Vale lembrar, que quanto mais tempo passa, mais peso o indivíduo pode ganhar com as sucessivas perdas e recuperações de peso, levando-o, muitas vezes, a um quadro de obesidade.

Atividade Física

Melhores resultados na perda de peso são obtidos quando se associa atividade física à dieta. O exercício físico facilita a aderência à dieta de baixa caloria e vice-versa, alterando a proporção de gordura e carboidratos utilizados tanto durante a atividade física como em repouso, e acrescentando maior perda de gordura corporal durante o tratamento. É um mito associar a atividade física ao aumento do apetite. Quando se avalia a ingestão de macronutrientes em 24 horas, observa-se que nos dias em que são feitos os exercícios a ingestão calórica é semelhante aos dias sem atividade física programada. Mas o exercício físico parece influenciar na seleção dos macronutrientes. Exercícios de longa duração e baixa intensidade produziram maior ingestão de lipídeos do que em condições sedentárias e os exercícios de alta intensidade e curta duração produziram um consumo maior de carboidratos. O exercício físico melhora a força muscular, o equilíbrio, a agilidade e o condicionamento cardiovascular não só no momento do exercício, mas durante o restante do dia.

A atividade física prescrita pode ser a programada e a não programada. As atividades físicas não programadas são as atividades rotineiras e devem ser incluídas no programa de perda de peso. Modificações de coisas simples (como reduzir o uso de controle remoto da televisão, de telefones sem fio, de elevadores e escadas rolantes, deixar o carro em casa de vez em quando e passear a pé) fazem diferença importante no final do dia.

A atividade física programada deve fazer parte do tratamento para perda de peso, mas no momento de prescrevê-la devemos levar em conta as limitações do paciente, tais como magnitude da obesidade, doença isquêmica, problemas ortopédicos etc. A adesão é maior quando há prazer no exercício praticado.

Além dos benefícios da atividade física como tratamento para perda de peso, é unanimidade que ela é fundamental para a manutenção do peso perdido.

Dicas:
● Não existe dieta milagrosa;

● Não se deve acreditar em e-mail ou qualquer tipo de anúncio sobre esse assunto;

● O emagrecimento é um processo gradativo e se ocorrer de forma rápida pode ser prejudicial à saúde;

● Muitas vezes o peso perdido com dietas milagrosas não é de gordura, mas de músculos e água;

● Essas dietas podem até trazer algum resultado, porém, pode ser desastroso assim que a dieta é abandonada, causando o famoso “efeito sanfona”;

Não fique muito tempo sem comer, em jejum (pode reduzir o gasto energético corporal e ainda aumentar a secreção do cortisol, hormônio do estresse que também facilita acúmulo de gordura na região abdominal);

● Não pule refeições e evite restrição alimentares severas;

● Não deixe de ingerir nenhum grupo específico de alimentos (comer alimentos ricos em carboidratos, gorduras, proteínas, além de vegetais e frutas);

● Para emagrecer não basta só ingerir menos calorias, é necessário a prática paralela de atividade física;

● Em períodos de instabilidade emocional, realizar constantemente atividades de lazer de sua preferência (como por exemplo: dançar, cantar, brincar com cachorro, jogar, ler, ou qualquer atividade que lhe dê prazer), para evitar que o alimento sirva como conforto.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Almeida, JC; Rodrigues, TC; Silva, MS; Azevedo, MJ. Revisão Sistemática de Dietas de Emagrecimento: Papel dos Componentes Dietéticos. Arq Bras Endocrinol Metab 2009; v.53, n.5, p: 673-687.

Cuidados com Dietas Milagrosas. Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Disponível em: www.endocrino.org.br Acessado em: 15/10/2014.

Efeito sanfona. Disponível em: www.dietnet.com.br Acessado em: 15/10/2014.

Philippi, ST. A dieta do bom humor. 1. ed. São Paulo: Panda Books, 2006.


Suplicy, H.Tratamento Não Farmacológico da Obesidade. Revista Abeso; 2007.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Disfagia

      A disfagia é definida como desordem na habilidade de deglutir, com prejuízos na segurança, eficiência e qualidade da deglutição.

        A deglutição consiste em conduzir de forma programada uma sequência dinâmica de contrações e relaxamentos de músculos que podem ser divididos em três fases com base na localização: oral, orofaríngea e esofágica. A disfagia ocorre quando há um problema com qualquer parte do processo, levando à dificuldade na deglutição. É um problema que pode atingir todos os grupos etários, porém sabe-se que a incidência é maior em idosos e pacientes que sofreram acidente vascular cerebral (AVC).

      As causas neurológicas são as mais frequentes e, usualmente, as que causam mais grave repercussão na dinâmica da deglutição. Entretanto, há ainda uma diversidade de causas que podem estar associadas à disfagia, tais como tumorações, que podem provocar uma obstrução intrínseca ou extrínseca da luz digestiva, traumas, cirurgias, alterações odontológicas e até mesmo envelhecimento.

         Nas pessoas idosas, a prevalência exata de disfagia é desconhecida, frequentemente aparece em cerca de 50% dos idosos internados. Isso decorre do processo de envelhecimento, por conta da diminuição ou dificuldade no processo de mastigação, por xerostomia (boca seca), por desordens neurológicas (AVC, doença de Parkinson, doença de Alzheimer e câncer de cabeça e pescoço) e por desordens musculares e da anatomia orofaríngea.

        O diagnóstico da síndrome disfágica deve inicialmente ser clínico e efetuado preferencialmente por profissional habilitado. Exames diagnósticos complementares como nasofaringoscopia, videodeglutograma oral, pHmetria, manometria esofágica e endoscopia digestória alta podem ser realizados. Os sintomas da disfagia são:

● Dificuldade em deglutir a saliva;

● Dificuldade no controle da língua na alimentação em geral;

● Aparecimento repentino ou a persistência de reflexo patológico, como de mordida, procura, sucção, mastigação (em idades incompatíveis);

● Diminuição da movimentação das estruturas envolvidas na alimentação;

● Tosse frequente durante a ingestão de qualquer tipo de alimento ou líquido, e até de saliva;

● Apneia (falta de ar) e a presença de resíduos que foram ingeridos na cavidade nasal são aspectos dificultadores do processo de deglutição;

● Perda de peso ou nutrição inadequada por tempo prolongado.

Terapia Nutricional


         A terapia nutricional enteral (envio de nutrientes diretamente dentro do estômago, duodeno ou jejuno) é indicada para pacientes com risco de aspiração. A transição da terapia nutricional enteral para a via oral é o momento mais importante para os pacientes portadores de disfagia orofaríngea. Essa transição deve ser acompanhada por um profissional fonoaudiólogo, que, juntamente com o nutricionista, faz a seleção dos alimentos introduzidos em cada fase da evolução do paciente.

           A textura, a consistência, a viscosidade, a adesividade, o grau de coesão, a firmeza e a densidade dos alimentos devem ser considerados na seleção da dieta oral antes de serem oferecidos aos pacientes. Deve-se iniciar a alimentação via oral com líquidos espessados, a fim de evitar ocorrência de refluxos. Preparações líquidas são contra-indicadas no início da reintrodução da alimentação via oral, pois os líquidos, por serem de baixa viscosidade, podem favorecer o risco de aspiração. A substituição da terapia nutricional enteral ou a reintrodução da alimentação oral deve obedecer a um esquema de evolução de consistência dos alimentos que a compõem, determinada por uma avaliação fonoaudiológica.

            No distúrbio da deglutição, é necessário ajustar a textura de alimentos pastosos e líquidos de acordo com as condições do paciente. A consistência mais adequada dependerá de avaliação clínica do paciente e uma análise detalhada do grau de disfagia.

Disfagia Leve: Os alimentos devem variar em sabor e em odor. Alimentos tipo “fast food” devem ser evitados, assim como alimentos muito secos e refeições volumosas. O ideal é que os pacientes troquem três grandes refeições por seis menores. Uma grande refeição poderia levar à fadiga da musculatura relacionada e ao desconforto abdominal. Exercícios específicos, posicionamento da cabeça e do tronco são importantes. A posição ideal para alimentação do paciente é sentada e com a cabeça fletida entre 30 e 40 graus.

Disfagia moderada: Líquidos com consistência pastosa podem beneficiar aqueles que aspiram líquidos mais ralos e, assim, o paciente pode manter ingestão calórica adequada. Antes da alimentação é recomendada higiene oral. Durante a alimentação o tronco e a cabeça necessitam ser seguros para limitar a extensão cervical. Repetidas flexões e extensões do pescoço podem ajudar no reflexo da deglutição. Atenção especial deve ser dada a pacientes em assistência ventilatória. Em indivíduos traqueostomizados há prejuízo na rotação do pescoço e na deglutição, o que aumenta a chance de aspiração. O tubo de traqueostomia também pode comprimir o esôfago, contribuindo para a piora do quadro de disfagia.

Disfagia grave e aspiração: Nos casos graves de disfagia, com alterações da musculatura da face, a boca torna-se seca durante a noite, pois permanece aberta neste período ou pela medicação em uso. Pode-se borrifá-la ou lavá-la com água morna ou usar swabs umedecidos. As secreções da porção posterior da cavidade oral devem ser removidas com os dedos. Aspirações frequentes, quedas de saturação durante a deglutição, perda de peso, levam à indicação de alimentação por meio de sonda nasoenteral ou, nos casos mais graves e de pior prognóstico quanto à recuperação da deglutição, indica-se o uso de gastrostomia. O uso de sonda nasoenteral ou gastrostomia não elimina a alimentação oral, caso os pacientes mantenham alguma capacidade de deglutição, complementando suas necessidades nutricionais.

      Os espessantes são substâncias químicas que aumentam a consistência dos alimentos. São hidrossolúveis e hidrofílicos, usados para dispersar, estabilizar ou evitar sedimentação de substâncias em suspensão.

        Existem espessantes específicos para a finalidade da alimentação do paciente com disfagia, pois as indústrias alimentícias utilizam esses agentes formados, principalmente, por polissacarídeos (carboidrato), que se dividem em gomas e amidos para a produção de pães, doces em geral, na produção de gelatinas, pudins, flans, entre outros.

Espessante para líquidos frios: Para espessamento de líquidos frios, como chás, sucos, refrigerantes, leite, iogurte e água, utilizar espessantes a base de amido modificado ou amido modificado pré-cozido, pois eles necessitam pouca manipulação. Os amidos modificados alteram pouco o valor nutricional, sabor e características visuais. O amido modificado pré-cozido, quando adicionado a líquidos frios, altera sua consistência e torna-se mais pastoso (ex: mingau).

        O amido natural, também utilizado para espessamento de líquidos frios, necessita um maior tempo para manipulação, pois existe dificuldade em obter-se a textura desejada. Recomenda-se aquecer o líquido até a geleificação do amido e a seguir o processo de resfriamento. Com esse processo obteremos alterações visuais, organolépticas e alterações nutricionais.

Espessante para líquidos quentes: Para espessamento de líquidos quentes deve-se utilizar espessantes a base de amido modificado. Outras possibilidades são a utilização de amido de milho, farinha de trigo, fécula de batata, farinha de aveia, farinha de arroz ou cereais infantis. Esses amidos têm como característica aumentar o valor calórico das preparações.

        A desidratação pode ser um grande problema para indivíduos com disfagia, sendo, por vezes, necessário acompanhamento por meio de registros diários de ingestão e excreção de líquidos. Avaliação clínica e laboratorial são indicadores importantes para o estado de hidratação do paciente e devem ser analisados em conjunto. A necessidade hídrica diária gira em torno de 20 a 30ml/kg de peso corporal.

        O uso de alimentos com alto teor de conteúdo de líquidos, como purês de frutas, mingaus de cereais, manjares e pudins, assim como o uso de líquidos espessados para aqueles que são incapazes de ingerir líquidos ralos, ajuda a prevenir a desidratação. Os líquidos espessados com amido natural ou modificado são considerados água livre para a hidratação do paciente, pois o processo digestivo normal libera a água ligada ao amido. Dessa forma é possível atingir as necessidades hídricas do paciente disfágico, apesar da modificação da consistência dos alimentos orientados.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Cukier, C; Magnoni, D; Alvarez, T. Nutrição baseada na Fisiologia dos Órgãos e Sistemas. 1. ed. São Paulo: Sarvier, 2005; p.100-114.

Isosaki, M; Cardoso, E. Manual de Dietoterapia e Avaliação Nutricional do serviço de nutrição e dietética do Instituto do Coração – HCFMUSP. 1 ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2004: p.71-74.


Silva, LBC; Ikeda, CM. Cuidado nutricional na disfagia: uma alternativa para a maximização do estado nutricional. Rev Bras Nutr Clin 2009; v.24, n.3, p: 203-210.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Acne e dieta


   A acne é uma afecção crônica, universal, multifatorial, inflamatória ou não inflamatória, que surge na puberdade, podendo surgir na mulher adulta em endocrinopatias. Quando não tratada pode durar por toda adolescência e se prolongar até a fase adulta.

   Localiza-se no folículo piloso sebáceo, formado pela invaginação da epiderme que se estende até a derme e abriga a glândula sebácea e o pelo no seu interior. (Gomes RK, Cosmetologia) 

   Segundo alguns estudos a prevalência de acne em áreas rurais e sociedades não industrializadas é muito menor do que em sociedades modernas e industrializadas. O que sugere uma relação com o alto consumo de alimentos ricos em glicose e o desenvolvimento da acne.

   Até pouco tempo atrás acreditava-se que a relação entre acne e fatores dietéticos não apresentavam nenhum fundamento científico. Mas alguns estudos já comprovam a relação da acne com a dieta.

 A utilização de alimentos pró-inflamatórios, dieta hiperlipídica, hiperpermeabilidade intestinal, índice glicêmico, algumas vitaminas e minerais e o leite de vaca são cada vez mais evidenciados cientificamente como responsáveis pelo desencadeamento da acne.

   Da mesma forma que certos alimentos causam inflamação há outros alimentos que por conterem determinados nutrientes agem como anti inflamatórios.

  O ácido graxo ômega-3 é capaz de sintetizar os hormônios prostaglandinas e leucotrienos que inibem ou ao menos controlam o processo inflamatório.Como este nutriente não é produzido pelo organismo deve ser estimulado de forma dietética.

    As principais fontes de ômega-3 estão nos óleos vegetais, de linhaça, oliva, canola, germe de trigo e em animais de origem marinha, sardinha, atum e salmão.

 Dietas hiperlipídicas também desencadeiam o aparecimento da acne sendo ideal evitar alimentos industrializados, frituras e doces que contém gorduras que não favorecem o melhor desempenho do organismo.

   A hiperpermeabilidade intestinal é causada e muitas vezes agravada por fatores como má digestão, que ocorre por um déficit de enzimas digestivas, hipocloridria, ausência de protetores à mucosa, toxinas bacterianas , irritantes químicos, radicais livres e a desbiose. O tratamento para a hiperpermeabilidade intestinal consiste na utilização de probióticos, pré-bióticos, fibras solúveis e insolúveis e a glutamina.

  Os probióticos são produtos farmacêuticos ou alimentares (podem ser encontrados em iogurtes e leites fermentados) que contêm um ou mais micro-organismos vivos, como os lactobacilos e as bifidobactérias.

  Os compostos prebióticos são fibras não-digeríveis que funcionam como alimento para as bactérias intestinais benéficas, isto é, os probióticos – daí a importância de apostar na dupla para reorganizar a flora intestinal.Os representantes mais conhecidos desse grupo têm nomes complicados: frutooligosacarídeos (FOS) e inulina. Mas o que interessa mesmo é que eles podem ser facilmente encontrados. Os FOS, por exemplo, estão concentrados em alimentos de origem vegetal que podem ser comprados na feira ou no supermercado, como cebola, alho, tomate, banana, cevada, aveia, trigo, mel e cerveja. Já a inulina está presente principalmente na raiz da chicória, e também no alho, na cebola, no aspargo e na alcachofra.

  Fibras solúveis são um tipo de fibra que tem a propriedade de se misturar com água, formando uma espécie de gel no nosso estômago. Elas atrasam o esvaziamento gástrico, reduzem a absorção de glicose e gorduras.Alimentos com fibras solúveis:Aveia, casca de frutas, feijões, ervilha e cevada. Já as fibras insolúveis propiciam o aumento do bolo fecal, estimulam o bom funcionamento do intestino e previnem a constipação intestinal. Alimentos com fibras insolúveis:Verduras, farelo de trigo, cereais, soja e grãos integrais.

  A glutamina está disponível como um suplemento, embora alguns alimentos a contenham naturalmente como alimentos ricos em proteínas.

   Os alimentos com alto índice glicêmico também tem uma relação negativa com acne, por isso devem ser evitados. Integrais, vegetais, frutas e batata doce são alguns exemplos de alimentos com baixo índice glicêmico já os refinados, batata inglesa, laticínios e doces possuem alto índice glicêmico e devem ser evitados para o controle da acne.

   Alguns micronutrientes têm relação com aumento da acne quando estão em deficiência no corpo como por exemplo o zinco, selênio, cobre, vitamina A, vitamina B5 e vitamina B6. A castanha do pará é uma excelente fonte de selênio e contém também o zinco, que está presente no farelo de arroz, frango, alho, semente de girassol e abóbora. O cobre pode ser consumido em frutos integrais secos, mariscos e cacau.

  Como principais fontes de vitamina B5 temos os ovos, leite, carnes, leguminosas, como ervilhas e feijão, cogumelos e gérmen de trigo.As melhores fontes de vitamina B6 são peixes, como atum, salmão, truta e arenque, nozes, amendoins, avelãs, semente de girassol, gérmen de trigo, levedo de cerveja, milho e cereais integrais, leguminosas, couve-flor, banana, melão e uvas passas. Já a vitamina A pode ser consumida em ovos e na forma de beta caroteno nos vegetais verde escuro, cenoura, manga, mamão e tomate.

  Uma boa maneira de prevenir e controlar a acne é com dieta equilibrada em micronutrientes (vitaminas e minerais), evitar o consumo de alimentos pro-inflamatórios( alto índice glicêmico, gorduras saturadas, açúcar), contribuir para a saúde intestinal e consumir alimentos ricos em fibras (frutas, legumes, vegetais)e gorduras boas (oleaginosas, ômega-3).


Referências bibliográficas:
1- Gomes RK, Damazio MG. Cosmetologia. Descomplicando os princípios ativos. São
Paulo: Livraria Médica Paulista, 2009.
2- Kraning KK, Odland GF. Prevalence, morbidity, and cost of dermatologic diseases.
Journal Invest Dermatology 1979;73(supp):395-41
3-Jibaja EE, Léon SA. Acne y dieta. Dermatol 2006;16(1):61-5
4- Cozzolino SMF, Cominetti C. Bases bioquímicas e fisiológicas da nutrição. Ed.
Manole São Paulo,2013.

Texto elaborado por: Nutricionista Fátima Biasoli
Graduada em Nutrição -UCS
Pós graduada em Nutrição Clínica e Esportiva -IPGS
Atuação em consultório particular com ênfase em Nutrição Esportiva e Estética na cidade
de Caxias do Sul-RS

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Dia Mundial da Alimentação

   O Dia Mundial da Alimentação é celebrado em 16 de outubro para comemorar a criação da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO – Food and Agriculture Organization), cujo objetivo é trabalhar no combate à fome e à pobreza, promovendo o desenvolvimento agrícola, a melhoria da nutrição, a busca da segurança alimentar e o acesso de todas as pessoas aos alimentos necessários, em quantidade suficiente e com alta qualidade, para uma vida ativa e saudável. O tema este ano é “Preço dos alimentos – da crise à estabilidade“.O tema escolhido para este ano visa esclarecer o assunto e o que pode ser feito para atenuar seu impacto sobre populações mais vulneráveis.

       Desde a invenção das máquinas, os seres humanos começaram a abandonar os campos e a viver em cidades. A vida moderna levou as pessoas a conviverem com processos de industrialização que nos trazem conforto e comodidade.

       Hoje em dia, com a industrialização, a alimentação se tornou muito mais acessível. Basta sairmos de casa e podemos encontrar uma grande variedade de alimentos nas feiras, supermercados, restaurantes e outros locais. Mas você já percebeu que alguns alimentos são mais caros que outros? Os alimentos industrializados, principalmente, exigem tecnologia e passam por todo um processo de fabricação, embalagem e distribuição. Além disso, as indústrias podem manipular os ingredientes dos alimentos que elas vendem, com o objetivo de torná-los agradáveis para seu consumidor, ou seja, nós. Por esse motivo, os alimentos industrializados são, em geral, mais caros.

Escolhas alimentares são processos complexos, influenciadas tanto por fatores biológicos quanto por fatores sociais, culturais e econômicos, com destaque, neste último caso, para a renda familiar e o preço dos alimentos. Fatores econômicos parecem exercer influência decisiva na ingestão de frutas e hortaliças. Estudos realizados em países desenvolvidos indicam que dietas com alto teor de frutas e hortaliças são mais caras do que as demais e que a imposição de restrições econômicas ao custo da alimentação (como aquelas vivenciadas por famílias de baixa renda) conduz a dietas com baixa participação de frutas e hortaliças e de alta densidade energética (principalmente pelo alto teor de cereais processados, óleo e açúcar).

Figura 1: Despesas com alimentação (% do orçamento domiciliar) segundo quintins de renda familiar no Brasil, 2002 - 2003 e 2008 - 2009.




A qualidade e a quantidade da alimentação, de modo geral, tendem a ser bastante prejudicadas entre as faixas de renda mais baixas, com melhoras significativas ao alcançar mais de dois salários mínimos per capita. Dados da POF referentes à aquisição de alimentos confirmam essa tendência, mostrando aquisição significativamente menor de alimentos saudáveis, como hortaliças, frutas, carne e leite, entre a classe de menor renda em relação à classe de maior renda. A quantidade (em kg/pessoa/ano) de frutas adquirida por domicílios da classe de renda menor foi de 1/4 da quantidade adquirida pelos domicílios de maior renda em 2009. Para hortaliças, a proporção foi de um terço, e para leite e carne, cerca de 50%.

Por outro lado, os dados revelam alguns aspectos mais saudáveis da alimentação em domicílios de renda menor. Em 2004 e 2009, a quantidade adquirida de refrigerantes, energéticos e sucos em pó e envasados foi muito menor entre a classe de menor renda em relação à classe de maior renda, e a aquisição de arroz e feijão foi maior.

A mesma relação entre a faixa de renda e a qualidade da alimentação pode ser observada nos dados referentes ao consumo alimentar oriundos da POF 2008-2009. Foi constatada que o quarto mais pobre da população consumia mais farinha de mandioca, arroz e feijão que o quarto mais rico e menos salada crua e frutas como banana e laranja. Foi observada, também, uma tendência de maior consumo de alimentos como refrigerantes, pizzas e salgados com o aumento da renda. Dados da POF referentes à aquisição e consumo de alimentos convergem ao revelar tendências pouco saudáveis na alimentação da população brasileira em geral, com diminuição do consumo de arroz e feijão e aumento no consumo de biscoitos, refrigerantes e refeições prontas entre 2008/2009 e 2002/2003. O consumo de frutas, legumes e verduras continua muito abaixo do recomendado. Os dados referentes ao consumo alimentar mostram a coexistência do padrão alimentar tradicional no Brasil (baseado no consumo de arroz, feijão e carne) e o aumento no consumo de alimentos ricos em açucares, sal e gordura.

Figura 2: Aquisição alimentar per capta anual de produtos selecionados (kg) - classe de renda menor a maior, Brasil 2003/2004 a 2008/2009.




O consumo elevado de alimentos ricos em açúcares, sal e gordura na população brasileira é reflexo do aumento preocupante no consumo de alimentos e bebidas industrializados e ultraprocessados.

Observa-se, também, uma forte tendência no Brasil no aumento da alimentação fora do domicílio. A parcela das despesas com alimentação gasta fora de casa aumentou de 24% para 30,1% de 2002/2003 a 2008/2009.92 Segundo dados da POF 2008/2009 referente ao consumo alimentar, a tendência de comer fora de casa e o consumo energético fora de casa aumentam progressivamente com a renda. Enquanto a classe de menor renda consumia 12% das calorias fora de casa, esse valor chega a 22,3% para a classe de maior renda.

Figura 3: Contribuição percentual para o consumo energético total e prevalência de consumo alimentar fora do domicílio, segundo as classes de renda per capta, Brasil 2008 - 2009.




Ao aprofundar a análise da alimentação fora de casa, constata-se que a população brasileira consumia, em 2008/2009, uma parcela significativa de arroz, feijão e carne bovina fora de casa – 12,5%, 12,2% e 16,6%, respectivamente. Cerca de 20% corresponde a legumes, verduras e frutas , como couve, alface, salada crua, cenoura, batata e maçã (g/dia). Contudo chama atenção o consumo diferenciado desses produtos segundo classes de renda. Enquanto o consumo de arroz e feijão fora de casa foi de 8,1% na classe de menor renda, esse valor sobe para pouco mais de 20% na classe de maior renda. Foi constatado, também, um percentual significativamente menor de consumo de carne bovina fora de casa entre a faixa de renda menor –13,8% comparado com 22,9% na faixa de renda maior. O percentual de consumo de alface e de salada crua fora de casa entre a faixa de menor renda foi menor, também – 7,5% e 12,7%, respectivamente, comparado com 28,5% e 24,2% na faixa de maior renda.

Por outro lado, o percentual de consumo fora de casa de alguns alimentos considerados, de modo geral, menos saudáveis – pizzas, sanduíches, salgadinhos industrializados e salgados fritos e assados – não mostrou diferenças marcantes entre as classes de renda. Em termos gerais, cerca da metade desses alimentos foi consumida fora de casa. No que diz respeito a refrigerantes, o percentual de consumo fora de casa entre a faixa de menor renda foi de 37% se comparado com 46,3% entre a faixa de maior renda.

As tendências do estado nutricional da população mostram claramente a transição nutricional no Brasil, caracterizada pela redução na prevalência da desnutrição na população (evidenciada pela redução no déficit de altura e de peso) e o aumento do sobrepeso e da obesidade.

Entre 1974-1975 (ENDEF) e 2008-2009 (POF), houve aumento da prevalência do excesso de peso de quase três vezes para os homens e de praticamente o dobro para as mulheres. Em relação à prevalência da obesidade, os resultados são ainda maiores para os homens, com um aumento de quase quatro vezes e maior do que duas vezes para as mulheres.

Figura 4: Prevalência de déficit de peso, excesso de peso e obesidade na população com 20 ou mais anos de idade, por sexo, Brasil - períodos 1974-75, 2002-03 e 2008-09.
 


A dieta ideal é aquela que fornece todos os nutrientes necessários para o funcionamento perfeito do organismo. Devemos lembrar também da qualidade desses alimentos, pois dar preferência a alimentos naturais sem adição de substâncias químicas, como agrotóxicos e outros aditivos, pode ajudar na prevenção de doenças. Você já sabe que uma alimentação saudável não é composta somente por frutas e verduras, já que devemos comer os alimentos de todos os grupos – carboidratos, verduras e frutas, leguminosas, proteínas, leite e derivados, açúcares e gorduras –, além disso devemos variar entre os alimentos de cada grupo. Assim, receberemos os benefícios de ter uma alimentação saudável.

Ter uma alimentação saudável pode trazer uma série de benefícios, pois o fornecimento de todos os nutrientes em quantidades adequadas é essencial para a manutenção do peso saudável. Outra questão bastante discutida é que a alimentação saudável aumenta a disposição para realizar atividades intelectuais tanto na escola, proporcionado um melhor aprendizado, como no trabalho, melhorando o desempenho do trabalhador.


As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Alimentação Saudável e Sustentável. Disponível em: www.portal.mec.gov.br Acessado em: 07/10/2014.

Claro, RM; Monteiro, CA. Renda familiar, preço de alimentos e aquisição domiciliar de frutas e hortaliças no Brasil. Rev Saúde Pública 2010; v.44, n.6, p: 1014-1020.

Dia Mundial da Alimentação. Conselho Federal de Nutricionistas. Disponível em: www.cfn.org.br Acessado em: 07/10/2014.


O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 2014.