quinta-feira, 30 de abril de 2015

Colite Ulcerativa



            A colite ulcerativa é definida como uma inflamação crônica com a presença de ulceração na mucosa do intestino grosso. A sua etiologia é desconhecida, mas pode ser desencadeada por estresse, distúrbios autoimunes e predisposição genética.  

         Os principais sintomas são perda de peso, dor ou cólicas abdominais, diarreia, febre, melena (fezes pastosas de cor escura) e sangramento retal. O tratamento pode ser clínico, com uso de antibióticos e anti-inflamatórios, ou cirúrgico.

Quadro 1. Características para diferenciar entre a colite ulcerativa (CU) e doença de Crohn (DC).


Características típicas da colite ulcerativa
Características típicas da doença de Crohn
Clínicas
Diarreia frequente de pequeno volume, com urgência.
Diarreia acompanhada de dor abdominal e desnutrição.

Diarreia predominantemente sanguinolenta.
Estomatite.


Tumoração abdominal.


Lesões perianais.
Endoscópicas e radiológicas
Inflamação superficial do cólon.
Lesões assimétricas transmurais descontínuas.

Envolvimento do reto.
Fundamentalmente compromete íleo e o lado direito do cólon.

Erosões e úlceras pouco profundas.
Aspecto pavimentoso.

Sangramento espontâneo.
Úlcera longitudinal.


Fissuras profundas.
Histopatológicas
Inflamação difusa da mucosa ou submucosa.
Inflamação granulomatosa.

Distorção das criptas.
Podem-se observar fissuras ou aftas; frequentemente inflamação transmural.
Marcadores séricos
Anticorpos citoplasmáticos antineutrófilos.
Anticorpos anti-Saccharomyces cerevisiae.
Fonte: World Gastroenterology Organization Practice Guidelines, 2009.

Diagnósticos da Doença Inflamatória Intestinal em Pacientes Adultos

O diagnóstico da DII requer um exame físico completo e a revisão da história do paciente. Existem vários exames, incluindo os exames de sangue, de fezes, endoscopia, biópsia e exames imaginológicos, que ajudam a excluir outras causas e a confirmar o diagnóstico.

● Inquirir sobre os sintomas—diarreia (sangue, muco), dor abdominal, vômitos, perda de peso, manifestações extraintestinais, fístulas, doença perianal (em DC), febre.
● Inquirir se alguns dos sintomas apresentados tinham ocorrido já no passado (não é infrequente que no passado tenha havido surtos da doença que não foram diagnosticados nesse momento).
● Duração dos sintomas atuais, despertar noturno, absenteísmo laboral ou das atividades sociais habituais.
● Inquirir sobre possíveis manifestações extraintestinais - incluindo, entre outras: artrite, patologia ocular inflamatória, doenças cutâneas, osteoporose e fraturas, doença venosa tromboembólica.
● Identificar se há transtornos do humor.
● Problemas médicos recentes e passados — infecção intestinal.
● Antecedente de tuberculose (TBC) e contatos conhecidos de TBC.
● Antecedentes de viagens.

Medicações — antibióticos e anti-inflamatórios não esteroides (AINEs).
● Antecedentes familiares (DII, doença celíaca, câncer colorretal).
● Tabagismo.

Conduta Nutricional

Energia: Hipercalórica, para garantir a recuperação do estado nutricional, e devido ao hipermetabolismo das doenças inflamatórias intestinais.

Proteínas: Hiperproteica (1,0-1,5g/kg de peso ideal/dia. Podemos chegar até 2,0g para desnutridos), com 70% de proteína de alto valor biológico, para garantir síntese proteica, melhora do sistema imune e recuperação da massa magra.

Carboidratos:
 
Fase Aguda: Isenta de lactose (evitar leite e derivados) A lactase é uma enzima de frágil inserção na mucosa intestinal e seus níveis podem estar diminuídos na diarreia, havendo intolerância. Controle de mono e dissacarídeos para evitar soluções hiperosmolares que possam aumentar o quadro diarreico. Rica em fibras solúveis e pobre em fibras insolúveis.

Fase de Remissão: Evoluir progressivamente o teor de fibras insolúveis.

Antifermentativa: Evitar alimentos relacionados com a formação de gases (brócolis, couve-flor, cebola crua, rabanete, batata-doce, feijão, lentilha, melão, abacate, melancia, doces concentrados como goiabada, cocada e etc...).

Lipídios: Hipolipídica (inferior a 20% das calorias totais), uma vez que os lipídios podem piorar a diarreia (devido à deficiência de sais biliares). Oferecer ácidos graxos ômega-3 (3-5g/dia) para diminuir a resposta inflamatória.

Nutrientes Específicos (Imunomoduladores): Glutamina, Arginina, Ácidos Graxos Ômega-3.

Antioxidantes 

Pesquisas têm demonstrado que a suplementação com antioxidantes pode ser eficaz no tratamento da colite ulcerativa. Os principais micronutrientes antioxidantes investigados são vitamina E, C, betacaroteno e selênio. Além disso, alguns fotoquímicos antioxidantes e com atividade anti-inflamatória, como a curcumina, também têm beneficiado esses pacientes. Os mecanismos de ação incluem: (1) eliminação direta de espécies reativas de oxigênio, (2) diminuição da expressão de proteínas pró-inflamatórias e (3) modulação de moléculas na superfície dos leucócitos.

Vários estudos têm demonstrado que os pacientes com colite ulcerativa, muitas vezes têm deficiências de nutrientes antioxidantes, como selênio, betacaroteno, vitaminas A, E e C,  no momento do diagnóstico. Esses pacientes também possuem atividade plasmática reduzida da glutationa peroxidase, que é uma enzima antioxidante dependente de selênio.

Um estudo clínico randomizado e controlado avaliou a eficácia de um suplemento oral, contendo óleo de peixe, fibras solúveis, selênio e vitaminas E e C em 121 pacientes com colite ulcerativa leve a moderada. Em comparação com o grupo placebo, o grupo que recebeu a suplementação apresentou uma diminuição significativa da dose de prednisona necessária para controlar os sintomas clínicos. Embora os pesquisadores tenham utilizado outros componentes que beneficiam os pacientes com colite ulcerativa, esse foi um dos poucos estudos clínicos que incluiu antioxidantes na suplementação.

Nos últimos anos, diversos estudos investigaram a eficácia de curcumina, um antioxidante polifenólico da Curcuma longa L ., em modelos experimentais de colite ulcerativa. Entretanto, poucos estudos foram realizados em seres humanos. Em um estudo multicêntrico, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo a eficácia da curcumina foi avaliada em 89 pacientes com colite ulcerativa. Além da medicação usual (sulfasalazina ou mesalazina), os participantes receberam a curcumina (2 g/d) ou placebo, durante 6 meses. A taxa de recorrência da doença foi significativamente menor no grupo que recebeu a curcumina, com melhora dos sintomas clínicos e dos exames endoscópicos, além de não causar efeitos adversos.

Apesar dos efeitos promissores, mais estudos clínicos randomizados, duplo-cego e controlados por placebo são necessários para alcançar evidência convincente do uso rotineiro de micronutrientes antioxidantes e da curcumina em pacientes com colite ulcerativa.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas: 

Caruso, L. Distúrbios do Trato Digestório. In: Cuppari, L. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar UNIFESP/ Escola Paulista de Medicina - Nutrição. 1 ed. Baureri: Manole. 2002. p.201-222.

Castro, RCB. Antioxidantes podem contribuir para o tratamento da colite ulcerativa? Disponível em: www.nutritotal.com.br

Diretriz Doença Inflamatória Intestinal: Uma Perspectiva Global. World Gastroenterology Organization Practice Guidelines, 2009.

Lopes, MSMS; Aquino, LA; Silva, TA; Vogel, CE. Doenças Inflamatórias Intestinais. In: Pereira, AF; Bento, CT.  Dietoterapia: uma abordagem prática. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.

Martins, BT; Basílio, MC; Silva, MA. Nutrição Aplicada e Alimentação Saudável. 1. ed. São Paulo: Editora Senac, 2014.

domingo, 26 de abril de 2015

Alimentos X Medicamentos



A interação droga-nutriente é um assunto relativamente recente e as informações a respeito ainda são um pouco escassas, mas vêm crescendo nos últimos tempos. Vale salientar que outros fatores além da alimentação podem afetar o mecanismo de ação do medicamento, como por exemplo, a idade, o peso e o sexo.

É importante saber que os medicamentos sofrem interação com os nutrientes. Por isso, algumas drogas não devem ser consumidas juntamente com alimentos, pois isto pode diminuir sua absorção e utilização pelo organismo humano. Já outros medicamentos têm indicação para serem administrados junto com a comida, para evitar, por exemplo, a irritação do estômago. Estas informações são importantes para a programação da dietoterapia de um paciente. Dessa maneira, é interessante que o nutricionista saiba onde age cada tipo de droga e como elas podem interagir com a alimentação.

Sempre escutamos falar sobre a interação entre leite, café e álcool com inúmeros medicamentos. Por exemplo, o álcool pode aumentar os efeitos colaterais causados ​​pelos medicamentos, como a sonolência provocada pelos antialérgicos.

No caso de medicamentos para doenças cardiovasculares, os inibidores da enzima conversora de angiotensina podem elevar a quantidade de potássio do corpo. Por isso, ao consumir tais medicamentos evite comer grandes quantidades de alimentos ricos em potássio como banana, laranja e substitutos do sal que contenham potássio.

Em contraposição, um problema relacionado a medicamentos para doenças cardiovasculares é que o consumo de alimentos ricos em fibras como a cenoura, pode atrapalhar a absorção da digoxina.

Semelhante à digoxina, o paracetamol, um anti-inflamatório muito utilizado, não é totalmente absorvido quando ingerido com alimentos ricos em fibras.  

Relação entre Medicamentos e Nutrientes

Antiácidos: neutralizam a acidez estomacal. O uso desta droga por longo período de tempo pode levar a deficiência de alguns nutrientes, pois a acidez do estômago é importante para a digestão e/ou absorção de alguns nutrientes. Os idosos produzem menos ácido estomacal, o que leva a menor absorção de vitamina B12 e o uso regular de antiácidos reduz ainda mais a absorção desta vitamina. A suplementação de vitamina B12 pode ser necessária nesses casos.

Antibióticos: são usados para tratar infecções bacterianas e alguns deles diminuem a síntese de vitamina K pelas bactérias intestinais e prejudicam os mecanismos de coagulação. Os do tipo tetraciclina, se consumidos junto com leite e derivados, se ligam ao cálcio e podem ser menos absorvidos. A penicilina e a eritromicina são mais efetivas quanto ingeridas com o estômago vazio, entretanto, a comida pode diminuir as chances de irritação do estômago. Por isso, o médico sempre deve ser consultado para decidir se o antibiótico será ingerido com ou sem alimentos.

Anticoagulantes: como a varfarina, diminuem o processo de coagulação sanguínea e sofrem interferência com a vitamina K. Portanto, indivíduos que estão sob tratamento com essas drogas devem ficar atentos à quantidade de vitamina K que ingerem através da alimentação. É importante que alimentos ricos em vitamina K, como fígado e vegetais de cor verde-escura (brócolis, espinafre, entre outros) sejam evitados.

Anticonvulsivantes: ajudam a controlar crises de convulsão. As do tipo fenitoína, fenobarbital e primidone podem causar diarreia e diminuição do apetite e, consequentemente, diminuir a disponibilidade de vários nutrientes. Estas drogas também aumentam a utilização da vitamina D pelo organismo humano, o que significa que menos vitamina D fica disponível para as funções orgânicas (como absorção do cálcio) e a suplementação pode ser necessária. Alguns anticonvulsivantes também interagem com a vitamina B e ácido fólico, diminuindo a quantidade circulante destas vitaminas. Mas, como os suplementos de ácido fólico afetam os níveis sanguíneos da droga, a suplementação deve ser supervisionada por um médico.

Anti-histamínicos: são usados para tratar alergias. Muitas destas drogas costumam causar sonolência (principalmente se associadas ao álcool) e aumentar o apetite, o que pode levar ao aumento de peso.

Anti-inflamatórios: são prescritos a pacientes com dores crônicas nas juntas, dores de cabeça, artrites, entre outros. O uso em longo prazo pode causar irritação estomacal e úlceras, por isso esta medicação deve ser ingerida com a comida. Uma atenção especial também deve ser dada ao Ácido acetilsalicílico que tem sua absorção reduzida quando consumido em conjunto com suco de maracujá (vitamina C) ou alface (Vitamina K) e pode alterar o transporte de folato.

Anti-hiperlipidêmicos: as substâncias utilizadas para reduzir o colesterol atuam reduzindo a absorção de gordura, o que pode ter como efeito colateral a redução da absorção de vitamina A, D, E, K e carotenoides. Foi demonstrado também que as absorções de vitamina B12, folato e cálcio podem ser afetadas. Se utilizadas por longos períodos, a suplementação com cálcio e multivitamínicos pode ser necessária.

Anti-hipertensivos: podem alterar os níveis de alguns minerais, como potássio, cálcio e zinco. Captopril, uma substância hipotensiva e inibidora da enzima conversora de angiotensina, pode se ligar ao ferro no intestino se for administrado juntamente com suplemento de ferro. A alimentação também interfere na absorção dessa substância, já que a alimentação retarda o esvaziamento gástrico e eleva o pH. Pacientes diabéticos que estão sob tratamento com anti-hipertensivos podem ter maior dificuldade para controlar a glicemia.

Antineoplásicos: são utilizadas para tratar diferentes tipos de câncer. Por irritarem a mucosa da boca, do estômago e do intestino, estas drogas frequentemente causam náuseas, vômitos e/ou diarreia, sintomas que afetam o estado nutricional. O mais conhecido é o metotrexato, o qual prejudica o metabolismo do folato. Para minimizar esse efeito colateral, recomenda-se o aumento da ingestão desse nutriente.

Antitubecular (Tuberculose): O medicamento isoniazida se liga à piridoxina e aumenta o risco de deficiência de vitamina B6. Parece inibir também o metabolismo hepático da vitamina D. A pelagra está associada ao uso prolongado de isoniazida, devido a sua interferência no metabolismo de niacina.

Antifúngicos: como o itraconazol, devemos tomá-lo durante ou logo após uma refeição completa para obtermos maior eficiência.

Diuréticos: fazem com que o organismo humano aumente a excreção de urina, por isso são frequentemente utilizados para tratar pessoas com hipertensão e retenção hídrica. Porém, alguns diuréticos aumentam a perda de potássio, magnésio e cálcio pela urina, outros limitam a perda de minerais. Neste último caso, a suplementação mineral deve ser evitada. A furosemida tem sido associada à deficiência de vitamina B1 em idosos.

Laxantes: aumentam a velocidade da digestão e reduzem o tempo de absorção de nutrientes. O uso excessivo de laxantes pode causar a depleção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K), minerais (sódio e potássio) e aumentar as perdas hídricas, podendo levar à desidratação.

No tratamento da osteoporose, os medicamentos são melhores absorvidos quando consumidos com o estômago vazio.

Algumas das drogas para saúde mental (que tratam depressão, ansiedade, entre outros) podem causar aumento ou diminuição do apetite, tendo impacto no estado nutricional do paciente. O álcool deve ser evitado junto com este tratamento medicamentoso, pois pode intensificar a sonolência causada pela droga. Algumas dessas drogas são inibidoras da MAO (enzima monoamina oxidase) e diminuem a utilização de compostos chamados monoaminas pelo corpo humano. Os inibidores da MAO também podem reagir com a tiramina (uma monoamina) encontrada em certos alimentos (principalmente alimentos “envelhecidos” e fermentados, como alguns queijos, extrato de malte, arenque em conserva, favas e alguns vinhos). Esta reação pode causar um aumento importante na pressão sanguínea e, se não for tratado, pode levar o indivíduo a óbito.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizada única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referências Bibliográficas:

Pfrimer, K; Ferriolli, E. Avaliação Nutricional do Idoso. In: Vitolo, MR. Nutrição: da gestação ao envelhecimento. 1. ed. Rio de Janeiro: Ed. Rubio, 2008.

Lewinski, IW. O que devo saber sobre o medicamento do meu paciente. Disponível em: www.nutritotal.com.br

Morzelle, MC.  Alimento e Medicamento: Amigos ou Inimigos? Grupo de Estudo em Alimentos Funcionais. Disponível em? www.alimentofuncional.webnode.com.ve

University of Florida. Food/Drug and Drug/Nutrient Interactions: what you should know about your medications. Disponível em: http://edis.ifas.ufl.edu/pdffiles/HE/HE77600.pdf.