sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Probióticos



A relevância da composição e da função da microbiota gastrointestinal (GI) foi negligenciada durante muito tempo. A flora GI, ou microbiota GI, de um adulto consiste em mais de 1.000 espécies. Microbiota se refere a uma população de organismos microscópicos que habitam um órgão do corpo ou uma parte do corpo de uma pessoa. Microbioma humano se refere a uma única população inteira de micro-organismos, e os seus elementos genéticos completos, que habitam o corpo de um indivíduo. Um adulto possui um trilhão de bactérias no intestino, ou seja, 10 a 100 vezes mais bactérias do que suas próprias células humanas. Porém, no nascimento, o trato GI é estéril. 

A presença de bactérias no intestino é obrigatória para o desenvolvimento de diversas funções do trato GI. Se os animais viverem em um ambiente estéril, o movimento de peristalse não se desenvolve adequadamente. Em outras palavras, na ausência da microbiota intestinal, a função motora do intestino é comprometida. As bactérias são necessárias para o desenvolvimento do tecido linfoide associado ao intestino.

A microbiota intestinal é um dos principais determinantes do desenvolvimento do sistema de defesa da mucosa intestinal. Acredita-se que a ocorrência de muitas doenças, tanto intestinais quanto não intestinais, possa estar relacionada a desregulações ou interferências no desenvolvimento inicial do sistema de defesa da mucosa intestinal. Essas doenças podem ser atópicas ou autoimunes. Embora a predisposição genética seja o principal fator determinante, a microbiota GI tem um papel fundamental. Os produtos da decomposição provenientes da dieta, tais como nucleóticos e oligossacarídeos, e as bactérias intestinais orientam o amadurecimento dos linfócitos T, que são necessários para o desenvolvimento do sistema imunológico, tanto do adquirido quanto do inato.

A microbiota residual é considerada potencialmente patogênica e é mantida em níveis mais baixos, graças à ação inibitória exercida pelas bactérias não patogênicas como Bifidobactérias e Lactobacillus. No funcionamento ótimo do intestino, as bactérias que são patogênicas coexistem com as bactérias benéficas e as duas populações se equilibram.

O termo probiótico deriva do grego e significa “pró-vida”, sendo o antônimo de antibiótico, que significa “contra a vida”. Probióticos são definidos como microrganismos vivos administrados em quantidades adequadas que promove benefícios a saúde do hospedeiro, favorecendo no equilíbrio microbiano intestinal. Entre os diversos gêneros que integram este grupo destacam se o Bifidobacterium e Lactobacillus que têm sido os probióticos mais utilizados em alimentos com alegação de propriedades funcionais e ou de saúde.

O uso de organismos probióticos surgiu no Oriente médio, onde médicos prescreviam que iogurtes e outros fermentados serviam como terapia para infecções do trato gastrintestinal e também como estimulante para o apetite.

Os probióticos, assim como os prebióticos, enquadram-se no conceito de alimentos funcionais. O conceito diz que alimento funcional é aquele que além de fornecer a nutrição básica, promove a saúde do hospedeiro. A classificação de um alimento funcional pode ser dada de acordo com o alimento em si ou conforme a presença de componentes bioativos presentes neles, como exemplo probióticos.

Os probióticos devem ser inócuos, manter-se viáveis por longo tempo durante a estocagem e transporte, tolerar o baixo pH do suco gástrico e resistir à ação da bile e das secreções pancreática e intestinal, não transportar genes transmissores de resistência a antibióticos e possuir propriedades anti-mutagênicas e anticarcinogênicas, assim como resistir a fagos e ao oxigênio.

O modo de ação dos probióticos não foi ainda completamente esclarecido, embora tenham sido sugeridos vários processos que podem atuar independentemente ou associados. Um deles é a exclusão competitiva, em que o probiótico competiria com os patógenos por sítios de fixação e nutrientes, impedindo sua ação transitoriamente.

Seus efeitos anti-carcinogênicos podem ser atribuídos à inibição de enzimas pro-carcinogênicas ou a estimulação do sistema imunitário do hospedeiro. A administração de Lactobacillus casei foi relacionada com a indução de uma resposta antitumoral mediada por células T e a ativação de macrófagos, assim como a supressão da formação de tumores de cólon em camundongos e a inibição de metástases pulmonares.

Em um estudo publicado em 2011 pela revista Brazilian Journal of Otorhinolaryngology foi encontrado que que os probióticos, Lactobacillus e Bifidobacterium, parecem prevenir as recorrências alérgicas, aliviar a severidade dos sintomas e promover melhora da qualidade de vida dos pacientes com rinite alérgica. Estes efeitos ocorrem devido à modulação do sistema imunológico através da indução da produção de citocinas que promovem uma resposta TH1 dominante em alérgicos, através do efeito da modulação no balanço TH1/TH2.

A partir das propriedades e efeitos de suas bactérias constituintes, a microbiota intestinal realiza três funções vitais para a sobrevivência dos seres humanos:

Função antibacteriana: As bactérias autóctones exercem proteção ecológica intestinal, impedindo o estabelecimento das bactérias patogênicas. O mecanismo principal desempenhado pela microflora é conhecido como resistência à colonização pelo efeito barreira. Esta barreira mecânica à colonização ocorre pela ocupação dos  sítios  de  adesão  celulares  da  mucosa,  pela  flora  autóctone.  Há outros mecanismos de proteção adicionais como a competição pelos nutrientes disponíveis no meio, a produção de substâncias restritivas ao crescimento de bactérias alóctones (ácidos e metabólitos tóxicos) e as produções in vivo de substâncias com ação antimicrobianas.

Função imunomoduladora: A flora bacteriana interage com as células do epitélio intestinal do hospedeiro e provoca uma resposta contínua do sistema imune; este, por sua vez, tende a desenvolver-se, fortificando o mecanismo de defesa do indivíduo.  Como partes do sistema imunológico, o trato gastrointestinal com a microflora é considerado importante para a tolerância imunológica. Evidências da importância da microflora intestinal para o desenvolvimento do sistema imune foram obtidas através de estudos realizados nos animais germfree. Nestes animais observou-se que a mucosa intestinal apresentava baixa densidade de células linfoides, as Placas de Peyer eram pequenas e pouco numerosas, e era reduzida a concentração das imunoglobulinas circulantes. Após a colonização destes animais por micro-organismos, os linfócitos intraepiteliais expandiram-se, os centros germinativos com células produtoras de imunoglobulinas rapidamente proliferaram nas Placas de Peyer e na lâmina própria, e a concentração de imunoglobulinas circulantes aumentou.  O desenvolvimento do sistema imune local e sistêmico com o estimulo da microflora matura o sistema imune, e impede a estruturação de resposta alérgica.

Contribuição nutricional: As bactérias intestinais atuam na produção de certas vitaminas (complexo B) e na digestão de alimentos, principalmente hidratos de carbonos não digeridos no trato gastrointestinal superior, formando ácidos graxos de cadeia curta – FOS, que constituem a fonte alimentar energética das células intestinais.

As informações geradas ao longo dos últimos anos indicam que vários probióticos têm, além de sua atividade como promotores de crescimento e reguladores da microbiota das mucosas, efeito imunomodulador, embora a forma de ação seja pouco conhecida. As evidências acumuladas sobre os benefícios decorrentes do uso dos probióticos justificam o aprofundamento dos estudos sobre seu modo de ação, a fim de aperfeiçoar sua utilização como profiláticos, promotores de crescimento e imunomoduladores.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

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