segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Nutrição Infantil



O primeiro ano de vida é um período caracterizado por rápido crescimento e desenvolvimento. Até dois anos, o crescimento reflete as condições da vida intrauterina e de fatores ambientais, dentre os quais se destaca o estado nutricional. Dessa forma, alterações de crescimento nesse período têm como causa mais provável o déficit nutricional pregresso ou atual.

A Desnutrição Energético-Proteica (DEP) não tem mais relevância epidemiológica no Brasil, mas em virtude das suas formas clássicas e da importância da adequada intervenção na vigência de uma criança com baixo peso, ela deve ser abordada.

A definição clássica da OMS para a DEP é: um conjunto das condições patológicas decorrentes da deficiência simultânea, em proporções variadas de proteínas e calorias que ocorre mais frequentemente em lactentes e crianças pequenas e que geralmente se associa a infecções. Suas manifestações clínicas podem ser classificadas em Kwashiorkor (deficiência predominante de proteína), Marasmo (deficiência energético-proteica equilibrada), Kwashiorkor-marasmático (forma mista, em que existe a deficiência energética e proteica, porém desequilibrada).

A alimentação está profundamente associada à saúde, nutrição, crescimento e desenvolvimento infantil, sendo os primeiros anos de vida um período essencial para o estabelecimento de práticas alimentares adequadas.

Nos últimos anos vários estudos vêm demonstrando os agravos significativos quando a amamentação não acontece. Na fase inicial da vida, o leite humano é indiscutivelmente o alimento que reúne as características nutricionais ideais, com balanceamento adequado de nutrientes, além de favorecer inúmeras vantagens imunológicas e psicológicas importantes na diminuição da morbidade e mortalidade infantil.

A amamentação é, então, fundamental para a criança, para a mãe, para a família e a sociedade em geral. O principal argumento contra a introdução precoce dos alimentos complementares é o aumento dos riscos de morbimortalidade, especialmente em regiões com condições precárias de higiene.

Oferecer à criança outros alimentos além do leite materno antes do sexto mês de vida pode tornar a criança mais vulnerável a diarreias, a infecções respiratórias e gastrintestinais e a desnutrição, levando ao comprometimento do crescimento e desenvolvimento adequados.
Tem-se demonstrado, ainda, que a introdução precoce de alimentos aumenta a morbimortalidade infantil como consequência de uma menor ingestão dos fatores de proteção do leite materno.

A introdução precoce de alimentos altamente energéticos e de baixo valor nutricional, bem como o abandono do aleitamento materno, contribui para o comprometimento do crescimento e desenvolvimento da criança, além de propiciar a diminuição da proteção imunológica e o desencadeamento de processos alérgicos e distúrbios nutricionais.

Dessa forma, atingir a alimentação adequada das crianças na primeira infância deve ser um componente essencial da estratégia global para a segurança alimentar. 



Atualmente, o que percebemos é uma transição nutricional, onde a desnutrição infantil sai de cena e dá lugar à obesidade infantil, considerada atualmente uma patologia, a qual há algum tempo atrás estava estigmatizada, a questão da obesidade não era considerada como realidade que implicasse de tratamento porque era considerada por uma grande parcela da sociedade como consequência de maus hábitos alimentares, inatividade física e descuido.

Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF 2008-2009) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve um aumento no número de pessoas obesas e com excesso de peso em todo o Brasil. O sobrepeso atinge mais de 30% das crianças na faixa etária de 5 a 9 anos, cerca de 20% dos adolescentes entre 10 a 19 anos e nada menos que 48% das mulheres e 50,1% dos homens acima de 20 anos.

A obesidade em idades pediátricas potencia inúmeras complicações na saúde da população infanto-juvenil. As consequências impostas por esta doença são diversificadas e extensas, afetando inúmeros sistemas orgânicos, causando distúrbios cardiovasculares, respiratórios, dermatológicos, metabólicos, de crescimento, dermatológicos, ortopédicos e psicossociais, como diabetes melittus tipo 2, hipercolesterolemia, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, síndrome de apneia obstrutiva do sono, comprometimentos osteomioarticulares e diversos tipos de cânceres.

Estas complicações inerentes à doença residem na persistência do comportamento em idade adulta. A doença e as suas complicações provocam um impacto econômico já que conduz a custos diretos e indiretos que podiam ser diminuídos pela sua prevenção baseada numa alimentação saudável e na prática de atividade física.

Um estudo publicado na revista Preventive Medicine relatou que o exercício físico é capaz de reduzir as lipoproteínas de baixa densidade (LDL) em até 35% e os triacilglicerois em 40%, além de aumentar as lipoproteínas de alta densidade (HDL) em até 25%. Dessa maneira, o exercício físico é considerado por diversos autores como a principal ferramenta para atenuar os danos associados à obesidade infantil.

As crianças estão cada vez mais envolvidas pela mídia, nos shoppings, e pelas marcas e noutras atividades de consumo, fazendo aumentar o marketing para esta faixa etária principalmente direcionada para a alimentação, (categoria de produtos com maiores gastos e publicidade) o que tem coincidido com a diminuição significativa de hábitos saudáveis e o aumento de obesidade infantil pela influência negativa que afeta o consumo de alimentos de elevada densidade energética e pobre em nutrientes.

A crescente prevalência da obesidade infantil requer a tomada de medidas de controle ao marketing associado aos alimentos direcionados para as crianças, como já existe em muitos países da Europa, onde existe legislação que regulamenta a publicidade alimentar infantil, sendo necessário agir de uma forma multidisciplinar, para contribuir para um ambiente mais saudável.

Entende-se que as Políticas Públicas de intervenção na obesidade infantil, por exemplo, não devem ser pautadas apenas na perspectiva da saúde. Defende-se a importância de seu caráter intersetorial de forma a abranger o máximo de setores do serviço público. Desta forma, a discussão relacionada ao caráter intersetorial das políticas públicas torna-se uma questão urgente na atualidade como forma de alcance de maiores e melhores resultados. Assim, reforça-se a busca por uma política de promoção da saúde, prevenção e controle das doenças de forma ampliada, integrada e conectada aos mais diversos setores da sociedade.
Podemos afirmar que o acompanhamento multiprofissional através de grupos é extremamente importante para que as crianças e os adolescentes possam ser assistidos integralmente, considerando não somente sua saúde física, mas também seu bem-estar mental, psicoemocional e social.

As informações contidas neste blog, não devem ser substituídas por atendimento presencial aos profissionais da área de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e etc. e sim, utilizadas única e exclusivamente, para seu conhecimento.

Referência Bibliográfica:

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. POF 2008-2009: mais de 90% da população comem poucas frutas, legumes e verduras.

Victorino, SVZ. et al.
Viver com obesidade infantil: a experiência de crianças inscritas em programa de acompanhamento multidisciplinar. Rev Rene. 2014 nov-dez; 15(6):980-9.

Rodrigues, A; Carmo, Isabel; Breda, J; Rito, A. “Associação entre o marketing de produtos alimentares de elevada densidade energética e a obesidade infantil”. Revista portuguesa de saúde pública 2011; 29:2.

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Barbosa, MB. et al. Custo da alimentação no primeiro ano de vida. Revista de Nutrição, v. 20, n.1, p.55-62, 2007.

Onis, M., Blössner, M., e Elaine, B. “Global prevalence and trends of overweight and obesity among preschool children”. American Journal of Clinical Nutrition 2010; n. 92, pp. 1257- 1264. 

RÊGO, C. “Influência das experiências nutricionais precoces na gênese das doenças da idade adulta”. Revista Factores de Risco 2010; n. 21, pp. 34-4.

Meuer, MC; Rocha, GDW. Nutrição Infantil. Instituto Ana Paula Pujol. Disponível em: www.institutoanapaulapujol.com.br Acessado em: 24/08/2017.

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